O Estado de S. Paulo, n. 48098, 25/06/2025. Economia & Negócios, p. B2

Lula poderia colaborar com gasto federal menor
Rolf Kuntz

 

Trégua pode ser uma palavra muito otimista, mas por alguns meses o Banco Central (BC) deverá evitar nova alta de juros, enquanto avalia os efeitos da recente elevação da taxa básica para 15%. Essa quase promessa foi registrada na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada nos dias 17 e 18 de junho.

Publicada ontem, essa ata aponta riscos inflacionários consideráveis associados tanto à instabilidade internacional quanto a desajustes internos. Se o documento fosse ilustrado, poderia apresentar com destaque imagens do presidente americano Donald Trump, do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

O texto menciona o “conflito geopolítico no Oriente Médio” e seus possíveis efeitos no mercado de petróleo, a incerteza sobre as contas públicas nos Estados Unidos e os desajustes e riscos da economia brasileira, com destaque para o excesso de gastos públicos e a incerteza quanto à evolução da dívida federal.

Na noite anterior à publicação da ata, houve forte reação iraniana aos ataques de Israel, bombardeio de instalações nucleares do Irã por aviões dos Estados Unidos e nova oferta americana de mediação diplomática.

O anúncio de cessar-fogo no Oriente Médio foi a grande notícia internacional no amanhecer de ontem. No Brasil, o mercado e os cidadãos mais atentos aos dados econômicos puderam conhecer, pela ata do Copom, um novo resumo da insegurança econômica nacional e global.

BOLETIM FOCUS. Um dia antes, o boletim Focus havia divulgado as medianas das novas projeções do mercado para a inflação oficial (5,24%), o crescimento econômico (2,21%), o câmbio (R$ 5,72) e a taxa básica de juros, a Selic (15%).

As estimativas de inflação declinaram durante quatro semanas, e as do Produto Interno Bruto (PIB) subiram ao longo de três, num mercado bastante otimista para nem se abalar com a alta de juros.

Esse otimismo ainda foi insuficiente, no entanto, para baixar a inflação estimada em até 4,5%, teto da meta, e para situar o crescimento esperado acima da faixa de 2% a 2,5%.

Se o presidente Lula colaborar, talvez o BC possa desenhar cenários mais animadores e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, consiga anunciar expectativas de crescimento mais parecidas com as de outros emergentes.

Se o presidente se dispuser a gastar menos e a facilitar o trabalho de seu ministro da Fazenda, no ano anterior ao das eleições, o noticiário econômico brasileiro poderá ser tão positivo quanto o de um cessarfogo no Oriente Médio.