O GLOBO, n 32.336, 17/02/2022. Política, p. 6
Presidente do PP apoia, ao mesmo tempo, Bolsonaro e PT
Bruno Góes
Novo comandante do partido do Centrão defende reeleição do presidente e está aliado a petistas na Bahia: “Problema nenhum'
O deputado federal Cláudio Cajado (BA), novo presidente nacional do PP, sigla que compõe a base do governo no Congresso, disse ontem que manterá, simultaneamente, laços estreitos com o PT e o presidente Jair Bolsonaro. Na Bahia, estado pelo qual foi eleito, ele apoiará o projeto petista, possivelmente liderado pelo senador Jaques Wagner. Na disputa à Presidência da República, porém, o dirigente trabalhará pela reeleição de Bolsonaro.
Como mostrou no fim de janeiro, além de casos como o de Cajado, já há no Centrão quem tenha desistido também do projeto de reeleição do atual titular do Palácio do Planalto para apoiar o principal adversário: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
— Não tem problema nenhum (apoiar o PT e Bolsonaro). Isso não é novidade. Está se tratando como novidade, mas não é novidade nenhuma. Cláudio Cajado,
Em vez de construirmos muros, estamos construindo pontes. Temos caminhado para boas soluções, e o governo da Bahia é exitoso com Rui Costa (governador petista). Lá, nós somos chamados de azuis (do PP) e vermelhos (do PT) — disse o presidente da sigla.
De acordo com Cajado, não há conflito eleitoral nas alianças que serão formadas. Ele afirma que a Executiva do partido já se posicionou contra qualquer imposição de alianças nos estados.
Alçado ao cargo de forma interina, Cajado passa a ocupar o lugar do colega de bancada André Fufuca (PP-MA). Antes, estava na presidência do PP o senador licenciado Ciro Nogueira (PP-PI), hoje ministro da Casa Civil.
—Acredito que essa aliança é aceita pela população e espero que essa vontade permaneça —acrescentou Cajado.
Partido do Centrão, o PP costuma dar liberdade a seus parlamentares para que façam suas próprias alianças regionais, à parte do cenário nacional. Um exemplo disso é que, até semana passada, o líder do partido na Câmara era o deputado Cacá Leão (BA), filho de João Leão, vice-governador da Bahia, estado comandado pelo petista Rui Costa.
Embora Cajado esteja alinhado a uma candidatura de Jaques Wagner, há negociações em andamento para que o PT ceda o espaço ao senador Otto Alencar (PSD). Seria uma sinalização para firmar uma aliança entre Lula e Gilberto Kassab, presidente do PSD, no plano nacional.
Como informou O GLOBO, Wagner tem considerado a hipótese de não concorrer ao governo estadual. Os possíveis cenários para a eleição local foram discutidos em uma reunião na terça-feira com o ex-presidente, em São Paulo.
— Eu trato isso (a candidatura de Otto ao governo da Bahia) como fake news, porque ele não é candidato a governador. Ele diz que é candidato ao Senado. Mas vamos analisar qualquer candidatura. Se todos desejarem os mesmos cargos, o entendimento fica difícil —disse Cajado.
“Em vez de construirmos muros, estamos construindo pontes. Caminhamos para boas soluções” _ Cláudio Cajado, presidente do PP