VALOR ECONÔMICO, n 5413, 08, 09 e 10 de janeiro de 2022. internacional, A9
Caso local de ômicron eleva risco de lockdowns na China
Agências Internacionais
A China confirmou ontem o primeiro caso de transmissão local da variante ômicron da covid-19 em Tianjin, quarta maior cidade do país e principal porto de acesso à capital Pequim - sede da Olimpíada de Inverno. Com uma política “covid zero”, a presença da variante altamente transmissível eleva o risco de novos lockdowns na China que poderão interromper a produção e as exportações, colocando mais pressão sobre uma economia já em desaceleração e as cadeias globais de suprimentos.
Para proteger Pequim e a realização do evento esportivo, o governo chinês ordenou a realização de testes nos 14 milhões de moradores de Tianjin, colocou 30 áreas residenciais sob lockdown e fechou algumas estações de metrô. As autoridades de Tianjin também ordenaram seus moradores a evitar viagens desnecessárias e muitos voos foram cancelados.
O Centro de Prevenção e Controle de Doenças da China (CDC) e seu escritório em Tianjin confirmaram dois casos de ômicron, após a realização de um sequenciamento do genoma, segundo a emissora estatal China Central Television (CCTV). As autoridades não confirmaram se os contágios tinham ligação com casos “importados”, descobertos em Tianjin no fim de 2021, segundo a CCTV.
A China mantém uma política de tolerância zero para a covid-19, valendo-se de lockdowns e testes em massa para conter quaisquer possíveis surtos. Os surtos recentes, embora pequenos em comparação com os números na casa de centenas de milhares nos EUA e na Europa, são os mais prolongados na China desde que o vírus apareceu pela primeira vez em Wuhan, no fim de 2019.
O risco de novos lockdowns na China ocorre em um momento que a demanda por transporte marítimo de contêineres tende a aumentar nas semanas que antecedem o ano novo chinês - no início de fevereiro -, quando as fábricas fecham temporariamente e as exportações diminuem. A China abriga sete dos dez maiores portos de contêineres do mundo, incluindo o mais movimentado, Xangai.
No ano passado, o fechamento temporário de terminais de contêineres nos portos de Shenzhen e Ningbo-Zhoushan contribuíram para aumentar os atrasos e gargalos no transporte marítimo. Na semana passada, a cidade de Ningbo foi parcialmente fechada após novos casos de covid.
Tianjin relatou os dois casos pela primeira vez na noite de sábado e nenhuma das pessoas, uma das quais uma criança, viajou para fora da cidade nos últimos 14 dias. O governo iniciou ontem mesmo os testes em massa nos cerca de 14 milhões de moradores, a fim de “prevenir efetivamente a propagação da variante ômicron”, segundo a agência estatal Xinhua.
Zhang Ying, vice-diretor do CDC de Tianjin, disse que os casos da ômicron identificados na cidade parecem ter pelo menos três gerações de disseminação - ou seja, teriam ocorrido pelo menos duas rodadas anteriores de propagação de pessoa a pessoa - levando as autoridades a concluir que o vírus provavelmente já circula na comunidade há algum tempo, segundo informou a Xinhua.
Entre as 20 pessoas infectadas, 75% são crianças com idades entre 8 e 13 anos, segundo o “Global Times”, outro meio de comunicação estatal. Na noite de sábado, Tianjin colocou 75.680 pessoas em quarentena, segundo o jornal.
Li Hongzhong, secretário do Partido Comunista em Tianjin, prometeu que a cidade “cumpriria ao máximo” seu papel de ser um “fosso” protegendo Pequim, segundo informaram meios de comunicação oficiais. “A prevenção da pandemia na cidade está em um momento crucial”, disse Li às autoridades, segundo reportou o jornal estatal Tianjin Daily. “Rastrear a origem do surto deve ser a tarefa mais urgente e importante.”
Mas as autoridades chinesas também buscaram tranquilizar os residentes de Tianjin de que não repetiriam os erros cometidos em Xi’an, cidade de 13 milhões de habitantes no centro da China sob lockdown desde antes do Natal. A medida decretada às pressas levou à escassez de alimentos e à recusa de tratamento médico a algumas pessoas da cidade, incluindo uma mulher grávida que sofreu um aborto espontâneo após de ter sua entrada negada em um hospital. Os relatos de Xi’an causaram forte indignação pública pelo país.
Li, secretário do PC de Tianjin, orientou as autoridades locais para garantir que os residentes recebam suas necessidades diárias, incluindo cuidados médicos.
Enquanto isso, no extremo sul do país, as autoridades da metrópole de Shenzhen, uma das cidades mais prósperas e centro tecnológico do país, divulgaram quatro casos da variante delta ontem. Os quatro tinham ligação entre si. As autoridades em Shenzhen, vizinha a Hong Kong, exigem das pessoas saindo da cidade um resultado negativo para o teste da covid-19.
No sábado, a Comissão Nacional de Saúde relatou 165 casos confirmados de covid-19, de 159 no dia anterior. Das novas infecções, 92 foram transmitidas localmente. A maioria dos novos casos locais ocorreu nas províncias de Henan e Shaanxi.