O GLOBO, n 32.336, 17/02/2022. Mundo, p. 17

Rosatom pode integrar consórcio para concluir Angra 3, diz ministro

Jussara Soares


Bento Albuquerque, da pasta das Minas e Energia, afirmou em Moscou que países devem aprofundar cooperação energética

O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou ontem, em Moscou, que a empresa russa Rosatom poderá integrar um consórcio para a conclusão da usina nuclear Angra 3, no litoral fluminense. O ministro integra a comitiva do presidente Jair Bolsonaro na viagem à Rússia.

—Estamos procurando um parceiro para a conclusão de Angra 3. As obras já estão em andamento, mas agora estamos procurando uma empresa que seja especialista em operação de usinas nucleares, para ser parceira da Eletronuclear. A Rosatom é uma dessas empresas, que já vem conversando com a Eletronuclear há algum tempo, e poderá ser uma das empresas que vão participar desse consórcio —afirmou.

Bento Albuquerque disse que o objetivo do governo é que a usina nuclear entre em operação em 2026. As obras estão atrasadas e paralisadas desde 2015. O ministro ainda lembrou que Brasil e Rússia já têm um acordo de cooperação no setor de energia. Ele defendeu uma ampliação desse acordo.

— O acordo entre Brasil e Rússia já existe, de cooperação no setor de energia. E o que nós estamos aqui trabalhando é para que essa cooperação se fortaleça. Nós devemos participar do Fórum Econômico de São Petersburgo, em junho, no setor de petróleo e gás. E acreditamos que possa haver uma cooperação muito grande, não só no campo técnico, mas também de investimento dos dois países no setor de petróleo e gás, já que a Rússia e o Brasil são grandes produtores de petróleo no mundo —disse.

Mais tarde, Bolsonaro e o presidente russo, Vladimir Putin, falaram da possibilidade de o Brasil adquirir pequenos reatores. Esse equipamento são menores que os reatores tradicionais de usinas nucleares, mais eficientes e de manuseio mais fácil. Além disso, esses reatores são mais baratos, possibilitando a construção de mais usinas nucleares num espaço de tempo menor.

Subsidiária da Eletrobras que não será privatizada, a Eletronuclear assinou na semana passada o contrato de retomada das obras do consórcio formado pelas empresas Ferreira Guedes, Matricial e ADtranz, que venceu a licitação para a conclusão de Angra 3 no ano passado. Os principais serviços previstos para a nova fase da obra são a conclusão da superestrutura de concreto do edifício do reator; o fechamento da esfera de aço da contenção; e a instalação da piscina de combustíveis usados, da ponte polar e do guindaste do semipórtico.

LICITAÇÃO AINDA ESTE ANO

Segundo a Eletrobras, será realizada outra licitação, ainda este ano, para a contratação da empresa ou do consórcio que irá finalizar as obras civis e a montagem eletromecânica da usina. A usina de Angra 3 terá capacidade instalada de 1,4 gigawatt (GW). O estágio atual da obra é 65% concluídos. A construção custou, até agora, R$ 7,8 bilhões e, segundo a Eletrobras, são previstos mais R $17 bilhões até que ela seja finalizada, em 2026.

Com início da operação previsto para 2027, Angra 3 vai quase dobrar a capacidade instalada de fonte de geração de energia nuclear no país, atualmente de 2 GW, referentes às usinas de Angra 1 e 2.

Angra 3 é um projeto do governo militar e começou a ser construída em 1984. As obras prosseguiram até 1986, quando foram paralisadas devido a dificuldades políticas e econômicas. O projeto ficou engavetado por 25 anos, até ser retomado em 2009 como um dos destaques do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometia pôr a usina para funcionar em 2014. Investigações realizadas pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato descobriram desvios de recursos na obra que resultaram na prisão de executivos da Eletronuclear. Desde 2015, com as denúncias de corrupção e a crise nas contas públicas, as obras estão paradas.