O GLOBO, n 32.335, 16/02/2022. Política, p. 7
Congresso de centro-direita não deixa revogar reformas, diz Lira
A afirmação é uma resposta à promessa de Lula de rever decisões do Legislativo
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PL), avalia que que a revogação do teto de gastos e de reformas como a trabalhista, cogitadas pelo ex-presidente Lula na précampanha, não serão facilmente aprovadas caso políticos de centro-direita continuem maioria no Congresso após as eleições —cenário que ele acredita ser o mais provável.
— Lula tá dizendo que vai fazer um monte de coisa (...). Que vai extinguir o teto. São coisas de cada candidato, de cada plataforma política. Só queria lembrar que no meio dos presidentes que estão e que serão eleitos tem o Congresso Nacional. E já deixei bem claro: permanecendo um Congresso de centro-direita, nossa vontade é não retroagir nos avanços que a gente já teve. O problema do Brasil é terminar as reformas paradas — disse Lira em entrevista concedida ao Valor.
O presidente da Câmara comentou ainda a projeção para os trabalhos do Congresso neste ano. Para ele, novas reformas econômicas só andarão depois de outubro. Em outra sinalização de que o governo Bolsonaro pode ter mais dificuldades de impor sua pauta no Congresso em 2022, ele afirmou que, entre projetos que devem ir a voto proximamente, estão matérias que preocupam o Planalto, como a legalização dos jogos e o projeto para criminalizar a propagação de “fake news”.
Lira também avaliou que a proibição do aplicativo Telegram, em pauta por causa da recusa da plataforma em responder a contatos da Justiça Eleitoral brasileira, “não pode virar uma polêmica nacional”. O deputado concordou, porém, que o Telegram precisa abrir uma sede no país para se submeter às leis nacionais.
— O relator (do projeto das fake news) se reunirá com os partidos e vota até março. Queremos evitar que a questão do Telegram vire outra polêmica nacional. O que tiver que ser feito será feito legislativamente. Não podemos ser terra de ninguém e não podemos ter cerceamento de participação. No que exceder, e há notícias de excesso não só na política, mas de distribuição de conteúdo de pedofilia e drogas, que se procure uma maneira de responsabilizar. Impedir (o funcionamento) é o último degrau. Basta que (a empresa tenha) uma sede ou representação no país para que possa receber um comunicado de algum excesso —declarou Lira.
Ainda na entrevista, Lira disse não acreditar em federação entre MDB e PSDB ou entre MDB e União Brasil. Mas espera “a fusão entre PSDB e Cidadania” e na federação entre PT, PSB, PCdoB e PV, “por mais problemas que tenha. Nos partidos de centro, ainda que tenham ação programática parecida, os interesses são muito divergentes nesse momento”.