O Estado de S. Paulo, n. 48100, 27/06/2025. Política, p. A11
Cid acusa defesa de Bolsonaro de tentar obter dados de delação
Rayssa Motta
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência no governo Jair Bolsonaro (PL), negou em depoimento à Polícia Federal ter conversado com o advogado Eduardo Kuntz por meio de um perfil no Instagram em nome de “Gabriela” (@gabrielar702). Também acusou a defesa de Bolsonaro de tentar obter informações de seu acordo de delação e obstruir a investigação da trama golpista.
Questionado sobre os diálogos, entregues pelo advogado ao Supremo Tribunal Federal (STF), Cid disse que não foi ele quem enviou as mensagens e que alguém teria gravado as conversas, “sem sua ciência e autorização”, e repassado os áudios a Kuntz. O depoimento foi prestado na terça-feira, mas o acesso ao termo só foi concedido ontem.
Nos diálogos atribuídos ao tenente-coronel, ele faz críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e sugere que as informações prestadas em seu acordo de colaboração estavam sendo distorcidas. Com base nas conversas, o advogado pediu a anulação da delação. Kuntz defende o coronel Marcelo Câmara no inquérito do golpe e alega que as mensagens comprovam que não houve voluntariedade na delação.
Em depoimento, Cid alegou que sua família foi procurada não apenas por Kuntz, mas também por Paulo Amador da Cunha Bueno, advogado de Bolsonaro, e por Fábio Wajngarten, que assessorou o expresidente, em eventos na Hípica de São Paulo e por meio das redes sociais.
Procurado, Cunha Bueno não se manifestou. Kuntz negou ter tentado interferir na delação. Wajngarten afirmou que “a criminalização da advocacia é a cortina de fumaça para tentar ocultar a expressa falta de voluntariedade do delator”. Moraes determinou que Cunha Bueno e Wajngarten prestem depoimento à PF.