O Estado de S. Paulo, n. 48101, 28/06/2025. Política, p. A11
Prefeito de Palmas é preso em ação contra venda de sentenças
Rayssa Motta
Fausto Macedo
A Polícia Federal deflagrou ontem nova fase da Operação Sisamnes, que investiga a suspeita de venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na 10.ª etapa ostensiva do inquérito, três pessoas foram presas preventivamente – o prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira (Podemos), o policial civil Marcos Albernaz e o advogado Antonio Ianowich Filho.
Procurada, a assessoria do prefeito disse que ele recebeu a decisão com “serenidade” e vai colaborar com a investigação. “Cabe informar que as investigações não se relacionam com a atual gestão municipal. A decisão visa a averiguação de informações e tudo será esclarecido. Neste momento, é importante prestar todos os esclarecimentos e manter preservadas a população de Palmas e a gestão municipal”, afirma a nota da prefeitura.
As defesas dos outros presos não haviam respondido até a noite de ontem.
Agentes fizeram ainda buscas em endereços na capital do Tocantins. A operação foi autorizada pelo ministro Cristiano
“A apuração revelou indícios de que informações confidenciais estariam sendo repassadas a investigados, com o envolvimento de agentes públicos, advogados e operadores externos”
Polícia Federal
Em nota
Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz a investigação na Corte.
A nova etapa da Operação Sisamnes – juiz corrupto, segundo a mitologia persa – foi aberta em busca provas sobre o suposto vazamento de informações sigilosas de inquéritos e processos. “A apuração revelou indícios de que informações confidenciais estariam sendo antecipadamente acessadas, articuladas e repassadas a investigados, com o envolvimento de agentes públicos, advogados e operadores externos”, informou a PF.
De acordo com os investigadores, os vazamentos eram “sistemáticos”, com impacto direto sobre operações da corporação. O inquérito aponta que as informações era repassadas para proteger aliados, frustrar ações policiais e construir redes de influência.
BUSCAS. O prefeito de Palmas já havia sido alvo de buscas na última etapa da investigação, no fim de maio. Na ocasião, ele negou envolvimento com vazamentos e disse que não tem mantém fontes privilegiadas em tribunais ou em qualquer outra instância do Judiciário.
Na primeira fase da Operação Sisamnes, em novembro de 2024, a PF prendeu um empresário apontado como “lobista dos tribunais” e fez buscas em endereços de auxiliares de ministros do STJ. Na época, o STJ disse que nenhum ministro tinha conhecimento de irregularidades. O esquema de venda de decisões envolveria advogados, lobistas, empresários, assessores, chefes de gabinete e magistrados de Tribunais de Justiça estaduais.
Em março, a PF mirou núcleo que estaria envolvido na venda de dados sigilosos de investigações no STJ. O advogado Thiago Barbosa de Carvalho, sobrinho do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), foi preso. Ele nega irregularidades.
PIVÔ. Conforme a PF, foi identificada rede clandestina de monitoramento, comércio e repasse de informações sigilosas sobre o andamento de investigações sensíveis supervisionadas pelo STJ, frustrando a efetividade de operações policiais.
Há um mês, a PF prendeu cinco suspeitos de envolvimento no assassinato do advogado Roberto Zampieri, pivô da Operação Sisamnes. Mensagens encontradas no celular dele levantaram suspeitas da compra de decisões e deram início ao inquérito.