O GLOBO, n 32.337, 18/02/2022. Política, p. 8
Advogado da família Bolsonaro, Wassef vira réu por racismo e injúria racial
Aguirre Talento e Patrik Camporez
Defensor é acusado pelo MP de ter dito que uma funcionária não saberia atendê-lo por ser negra
O advogado Frederick Wassef, que defende a família do presidente Jair Bolsonaro, tornou-se réu, ontem, pelos crimes de racismo e injúria racial. Ele vai responder ao processo na 3ª Vara Criminal de Brasília, que recebeu a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Wassef nega as acusações
“Diante da prova da materialidade e dos indícios de autoria que recaem sobre o denunciado, recebo a denúncia”, escreveu o juiz Omar Dantas Lima.
A acusação descreve dois episódios envolvendo Wassef em uma pizzaria em Brasília. Em um deles, o defensor teria dito as seguintes frases a uma funcionária, segundo o Ministério Público: “Não quero ser atendido por você. Você é negra e tem cara de sonsa e não vai saber anotar meu pedido”. No outro, Wassef teria chamado a funcionária de “macaca”.
“DIVISÃO PERVERSA”
Em depoimento à Polícia Civil, ela afirmou que foi ofendida por Wassef depois que ele reclamou que a pizza não estava boa. Na ocasião, a funcionária disse também que o advogado era cliente frequente do local e que já havia atacado verbalmente atendentes em outras ocasiões.
“O comportamento do denunciado reproduz a perversa divisão dos seres humanos em raças, superiores ou inferiores, resultante da crença de que existem raças ou tipos humanos superiores e inferiores”, escreveu o Ministério Público.
A denúncia pede ainda a condenação de Wassef ao pagamento de danos morais no valor de R$ 20 mil à vítima e de R$ 30 mil de danos morais coletivos à sociedade, além da condenação nos crimes previstos no Código Penal e na lei dos crimes resultantes de preconceito de raça e cor.
A promotora Mariana Silva Nunes, autora da denúncia, também apontou que não oferecerá a oportunidade de acordo para encerrar o processo, porque o modelo não é cabível em casos envolvendo racismo.
Procurado para comentar o recebimento da denúncia, Wassef afirmou que os fatos narrados não ocorreram e que houve “fraude processual”.
—A menina (denunciante) narrou uma coisa que não aconteceu. Sou vítima de denunciação caluniosa. Crimes e fraudes foram cometidos para me incriminar. Hoje, a vítima sou eu.