O GLOBO, n 32.338, 19/02/2022. Rio, p. 26

Bolsonaro sobre Petrópolis: ‘Imagem quase de guerra’

Diego Amorim e Felipe Grinberg


Após sobrevoar a cidade, presidente diz que teve noção do que aconteceu; União libera R$ 2 milhões para ações de emergência

O presidente Jair Bolsonaro visitou e sobrevoou ontem Petrópolis, onde um temporal deixou um rastro de destruição e mortes na terça-feira. Ao descrever o que viu do alto, disse que o cenário é de “quase guerra” e afirmou entender as críticas da população sobre os recorrentes problemas causados pelas chuvas na Região Serrana. A União divulgou que disponibilizou R$ 2 bilhões para o município e outras 50 cidades do país atingidas por desastres climáticos. Para Petrópolis, de acordo com o governo federal, já foram liberados R$ 2 milhões, mas as autoridades municipais ainda não calcularam quanto será necessário para reconstruir a cidade.

— Vimos pontos localizados, mas de uma intensa destruição. Uma imagem quase de guerra. Lamentável. Regiões onde existiam casas e um estrago causado pela erosão. Tivemos noção da gravidade do que aconteceu aqui em Petrópolis —disse Bolsonaro, em coletiva. —Vamos colaborar para reduzir o sofrimento dessas famílias.

A comitiva presidencial teve a participação dos ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), João Roma (Cidadania), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Braga Netto (Defesa), e do presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Deputados federais e estaduais da ala bolsonarista também acompanharam o presidente, além do governador Cláudio Castro e do prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo.

Nos cerca de 25 minutos de coletiva em Petrópolis, o presidente respondeu apenas a perguntas de quatro jornalistas pré-selecionados por sua equipe de comunicação e dedicou parte do tempo para falar sobre sua viagem à Rússia e à Hungria.

Sobre as sucessivas tragédias provocadas pelas chuvas na Região Serrana, o presidente disse que “medidas preventivas existem no orçamento”:

— Na questão emergencial, o tratamento é diferente. Não temos como nos precaver sobre tudo o que acontece. A população tem razão em criticar, mas aqui é uma região que infelizmente tivemos outras tragédias antes e pedimos a Deus que não ocorra mais. Medida preventiva é do orçamento da União votado anualmente. 

Rogério Marinho explicou que duas medidas provisórias, cada uma liberando R$ 500 milhões, serão publicadas nas próximas semanas. A verba será para cidades que sofreram com as chuvas. 

— Isso mostra nosso compromisso de amparar as populações vitimadas —disse o ministro, que não detalhou como os recursos serão gastos. 

Só para começar, R$ 300 milhões

> Diante do caos que se instalou em Petrópolis, devem ser necessários cerca de R$ 300 milhões apenas para as intervenções emergenciais na cidade. É o que estima o secretário estadual de Infraestrutura e Obras, Max Lemos. Ele ressalta, no entanto, que não se consegue ainda prever o volume total de recursos para recuperar a cidade após a nova tragédia. 

> — Estamos numa fase de levantamento. Não tenho como dar um número. É muito difícil — diz ele.

> Entre as ações emergenciais, o secretário cita a reconstrução de passarelas, a recuperação de galerias destruídas, a retirada de uma grande pedra na Rua Teresa, que ameaça rolar, e intervenções na encosta da Avenida Vinte e Quatro de Maio. A prefeitura de Petrópolis também ainda não consegue estimar o custo para a recuperação da cidade.

> Só no comércio de bens, serviços e turismo da cidade, pesquisa feita pelo Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFec RJ) estima que o temporal provocou um prejuízo acima de R$ 78 milhões aos empresários. A sondagem foi feita nos dias 16 e 17 de fevereiro e ouviu 245 comerciantes locais. Segundo os dados divulgados, 65,8% dos comerciantes tiveram perda ou queda de faturamento, e 32,4% tiveram seus estabelecimentos ou depósitos alagados.