O GLOBO, n 32.338, 19/02/2022. Brasil, p. 12

Primeiro ano da pandemia teve queda de divórcios

Arthur Leal


IBGE mostra duração menor de uniões que acabaram se desfazendo; 49,8% das separações em 2020 foram de quem estava junto há menos de 10 anos

O Brasil registrou 331,2 mil divórcios em 2020, primeiro ano da pandemia, de acordo com pesquisa divulgada ontem pelo IBGE. O número foi o menor desde 2015. Mas quase a metade (49,8%) das separações foi de casais que estavam há menos de dez anos juntos. Em 2010, essa proporção era de 37,4%. Pesquisadores avaliam que há uma tendência de queda na duração destes matrimônios, segundo os dados dos últimos anos.

— É uma mudança cultural, de costumes e de valores. Não se entende mais o casamento como algo que dura para sempre e ter filhos não é mais um impeditivo para o divórcio. Há também a facilitação jurídica, como o divórcio feito em cartório e as modificações legais para um novo casamento — comenta a gerente das Estatísticas do Registro Civil, Klívia Brayner.

O Sul teve o menor percentual de casamentos que duram menos de dez anos (45,6%) e o Norte, o maior (55,3%), em 2020. Nessa região, apenas 22,5% dos divórcios foram de pessoas que foram casadas por mais de 20 anos. A Região Sul também registrou o maior tempo médio entre a data do casamento e a do divórcio: 14,7 anos. Essa média era de 16,9 anos, em 2010. No Brasil, a média de tempo entre o casamento e o divórcio caiu de 15,9 anos, em 2010, para 13,3, dez anos depois.

O primeiro ano da pandemia também teve uma diminuição de 17,5% nos divórcios, na comparação com o ano anterior, que já havia interrompido uma sequência de três anos de crescimento (com diminuição de 0,5% na demanda). É o menor número em cinco anos. Mas os pesquisadores não acreditam que essa queda, considerada expressiva, tenha a ver com uma mudança de comportamento dos brasileiros, e sim com as dificuldades enfrentadas nos cartórios por conta do modelo de home office e durante o isolamento social. Um aumento de 1,1%, nos divórcios extrajudiciais, também em comparação com 2019, apoia essa conclusão.

— Muitos processos podem ter sofrido atrasos nesse período, o que pode ter ajudado a reduzir o número de divórcios em 2020. Foi um ano atípico —lembrou Klívia Brayner.

Os números também ajudam a traçar um pouco do perfil destes casais que buscaram o divórcio em 2020. Em média, quando pediram a separação, os homens tinham 43 anos, e as mulheres 40.