Correio Braziliense, n. 22700, 15/05/2025. Política, p. 2

Na CPI, influenciador digital joga no “tigrinho”
Alícia Bernardes



O influenciador digital Rico Melquíades, depoente de ontem na CPI das Bets, protagonizou um dos momentos mais inusitados da comissão até agora: fez uma aposta ao vivo no Jogo do Tigrinho, a pedido da relatora Soraya Thronicke (Podemos-MS). Ele jogou R$ 4 e obteve retorno imediato superior a R$ 100, o que causou surpresa entre os parlamentares e serviu como exemplo das táticas de sedução e promessa de lucro fácil usadas pelas plataformas de apostas — justamente o foco central das investigações do colegiado.

Cobrado a sacar o prêmio que havia ganhado, ele reclamou: “Vocês estão me deixando desconfortável. Não estou mais me sentindo à vontade. Percebo, sim, um tratamento diferente em relação à Virgínia, e sinto que estão me pressionando demais”. A menção foi à influenciadora digital Virgína Fonseca, ouvida na sessão de terça-feira e alvo de tietagem, inclusive, de senadores.

A demonstração da aposta foi solicitada por Soraya com o argumento de que a comissão precisava observar como se dá a interação real entre influenciadores e público. Ela mencionou que muitos desses criadores de conteúdo jogam em tempo real, alertam sobre riscos ou ensinam como acessar as plataformas.

Rico confirmou que seu contrato com a plataforma Blaze exigia 15 postagens mensais, algumas contendo ao menos dois minutos de jogo. “Não existe um script fixo, mas a gente recebe um briefing”, disse.

Questionado sobre a recorrência de vídeos exibindo vitórias, o influenciador admitiu que tendia a divulgar seus ganhos, o que provocou críticas dos senadores, que veem nisso uma forma de estimular o jogo, especialmente entre jovens.

Os parlamentares abordaram também o acordo judicial firmado por Rico com o Ministério Público de Alagoas. Ao ser pressionado a detalhar sua confissão, o influenciador alegou impedimento. “Não posso falar porque é segredo de Justiça.” Outro tema central do depoimento foram as chamadas “contas demo” versões simuladas de contas em plataformas de apostas, nas quais os resultados são manipulados para mostrar apenas vitórias. Rico negou utilizar contas desse tipo.

“Eu não sei como funciona a conta demo. Eu divulgava, mas também perdia”, sustentou. Ele afirmou que seus ganhos e perdas eram reais e que não recebia comissões pelas perdas dos seguidores.

Ele disse ser necessário repensar a forma de divulgar apostas e que mudou sua postura nas redes: “Hoje, alerto os seguidores sobre os riscos”, frisou.