VALOR ECONÔMICO, n 5415, 12/01/2022, Agronegócios, B8
Seca faz Conab reduzir projeção de colheita
Fernanda Pressinott, Rikardy Tooge, Rafael Walendorff e Alessandra Saraiva
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apresentou ontem sua nova estimativa para a colheita de grãos e fibras em 2021/22, a primeira a refletir, parcialmente, as perdas recentes com a estiagem no Sul do País e em Mato Grosso do Sul e com as chuvas em Estados do Centro-Norte. O relatório era aguardado com expectativa, mas tão importante quanto o que ele mostrou foi o que ele não mostrou - e isso inclui os prejuízos nas lavouras de soja, o principal produto agrícola do país.
“A [perda na] soja ainda não veio nessa análise da estiagem no Sul, mas o milho está praticamente todo contabilizado”, disse o presidente da Conab, Guilherme Ribeiro. O levantamento foi feito entre 12 e 18 de dezembro - antes, portanto, de Mato Grosso do Sul decretar estado de emergência por causa da estiagem e de Tocantins adotar medida semelhante em virtude do excesso de chuvas no Estado. Ainda não há cálculos precisos sobre as perdas com os problemas climáticos nesses Estados.
A estatal cortou em quase 7 milhões de toneladas sua projeção para colheita de grãos, que passou a ser de 284,39 milhões de toneladas. Para a soja, a Conab agora prevê colheita de 140,5 milhões de toneladas, ou 2,3 milhões de toneladas a menos que a previsão anterior. Em ambos os casos, mesmo com o corte, a estimativa continua a ser de colheita recorde, mas os números ainda serão revistos. Segundo Ribeiro, a estatal ainda fará imersões nas lavouras de soja para avaliar as perdas na cultura.
Para milho e feijão, culturas bastante castigadas a Conab prevê aumento. Somadas, as três safras do milho devem chegar a 112,9 milhões de toneladas em 2021/22, 29,7% mais que no ciclo passado, quando a principal safra (de inverno) foi castigada pela seca. Para o feijão - que também tem três safras por temporada no país - a expectativa é de avanço de 7,2%, para 3,08 milhões de toneladas. Esse resultado se deve ao aumento de produtividade média previsto para as lavouras, que, assim como o milho, também foi muito prejudica em 2020/21 pela seca e geadas. Na comparação com o relatório anterior, a Conab cortou a estimativa em 1,7% devido aos problemas no Paraná.
No caso do arroz, cuja produção é concentrada no Rio Grande do Sul, a estatal continua a estimar uma produção de 11,4 milhões de toneladas porque a maior parte das lavouras é garantida com irrigação. Essa estimativa representa uma queda de 3,2% ante 2020/21. Para o algodão em pluma, a Conab prevê colheita de 2,7 milhões de toneladas, 14,8% mais que na temporada passada e 3,7% mais que o previsto no mês passado.
Por fim, a Conab fez uma correção para baixo nas projeções do trigo, que acabou de ser colhido. A autarquia prevê agora uma colheita de 7,7 milhões de toneladas, ante 7,8 milhões no mês passado. O número representa um aumento em relação ao resultado de 2020/21, de 23,2%, mas uma queda na comparação com as estimativas iniciais que superavam 8,6 milhões de toneladas.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também manteve a projeção de colheita recorde. A safra brasileira de cereais, leguminosas e oleaginosas deverá atingir o recorde de 277,1 milhões de toneladas em 2022, 9,4% acima da produção de 2021, segundo o instituto. Essa previsão é 0,3% inferior à estimativa anterior do instituto.
A colheita da soja em grão deverá crescer 2,5%, para 138,3 milhões de toneladas, um novo recorde. O IBGE também projeta crescimento, de 24,1%, no milho de primeira e segunda safras, que deverá somar 108,9 milhões de toneladas. A estimativa é 0,4% menor que a anterior. O IBGE também divulgou o encerramento da safra 2021, com 253,2 milhões de toneladas. A produção foi 0,4% menor que a de 2020.
No caso do feijão, o terceiro prognóstico da produção para a safra 2022 é de 2,9 milhões de toneladas, aumento de 6% em relação à safra colhida em 2021. Ao detalhar as estimativas em relação a esse produto, o instituto informou que a primeira safra de feijão deve alcançar 1,3 milhão de toneladas; a segunda, 1,1 milhão de toneladas; e a terceira, 591,4 mil toneladas. Esse volume de produção deve atender ao consumo interno do país em 2022, informou ainda o instituto.
Em contrapartida, a terceira estimativa de produção do arroz para safra de 2022 aponta para produção de 11,1 milhões de toneladas. Esse volume representa declínios de 0,4% em relação à projeção anterior; e de 4,9% em relação à safra anterior. Mas essa produção deve ser suficiente para abastecer o mercado interno brasileiro.
Para o algodão, o instituto projeta colheita de 6,1 milhões de toneladas, volume 4,6% maior que o de 2021, e a do sorgo deve atingir 2,7 milhões de toneladas, crescimento de 11,4% em relação ao ano anterior. No caso do algodão, a recuperação dos preços da pluma e o aumento da demanda internacional devem incentivar os produtores a aumentar a área cultivada.