VALOR ECONÔMICO, n 5415, 12/01/2022, Finanças, C2
‘Economia não precisa mais de suporte extraordinário’
André Mizutani
O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, disse que “a economia não precisa mais e nem quer um suporte extraordinário” do BC americano e que “é hora de começarmos a normalização” da política monetária altamente acomodatícia nos EUA.
Durante a sabatina no Senado para a confirmação do seu segundo mandato à frente da autoridade monetária americana, Powell reconheceu que está na hora de “deixar para trás” as medidas emergenciais tomadas para ajudar a economia do país a lidar com a crise gerada pela pandemia, mas reconheceu que ainda “há um longo caminho até a normalização”.
Em sua última reunião de política monetária, a mediana das projeções dos integrantes do Fed indicou três elevações de 0,25 ponto percentual nos juros referenciais neste ano, mas as expectativas já são majoritárias de que o BC aumentará a taxa mais vezes. Os futuros dos Fed Funds - usados para avaliar as apostas dos investidores na política monetária do Fed - indicavam na tarde de ontem uma probabilidade de 53% de pelo menos quatro altas de 0,25 ponto em 2022 e de 79,3% de que o BC americano eleve os juros já em março.
Questionado sobre o peso dado pelo Fed ao mercado de trabalho, Powell disse que ambos os objetivos, de pleno emprego e estabilidade de preços, são igualmente importantes, mas que às vezes é necessário priorizar um deles. “No momento, eu diria que a inflação está mais longe das metas do que o mercado de trabalho.” O presidente do Fed reiterou, no entanto, que o surto de inflação se deve principalmente a fatores ligados à oferta, que não conseguiu acompanhar a forte recuperação da demanda, e que o BC americano tem pouca capacidade para lidar com este lado do desequilíbrio.
“O que temos agora é um desequilíbrio entre oferta e demanda, e não devemos resolver esse desequilíbrio apenas por meio da demanda”, disse, esclarecendo que, se a expectativa de inflação se fixar em nível mais elevado, o Fed pode ser forçado a apertar demais a sua política monetária, aumentando os riscos de uma nova recessão.
O banqueiro central reiterou também que a taxa de juros de referência continuará sendo a principal ferramenta de política monetária, mas reconheceu que o balanço de ativos do Fed está muito maior do que ele deveria estar, e que pode “deixar o balanço encolher” ainda neste ano. A linguagem sugere uma redução passiva do balanço, com o BC americano deixando de recomprar ativos no vencimento, pelo menos num primeiro momento.
Powell, disse ainda que o Fed ainda não decidiu quando tomará as ações para a apertar a política monetária, que ele reconheceu estar excessivamente acomodatícia.
Questionado também sobre as novas regras de ética aprovadas pela instituição, Powell esclareceu que qualquer movimentação de compra ou venda de ativos por parte dos integrantes do Fed deverá ser anunciadas à autoridade com 45 dias de antecedência e não poderão ser mudadas, impedindo movimentos sincronizados com as decisões do BC americano.
O vice-presidente do Fed, Richard Clarida, anunciou na segunda que renunciará no próxima dia 14, duas semanas antes do término oficial do seu mandato, depois de se envolver em uma controvérsia relacionada a operações de venda de ações em 2020, pouco antes de o banco central americano tomar medidas para sustentar a economia.
Dois então presidentes regionais do Fed também renunciaram no ano passado, após notícias sobre seus investimentos durante a pandemia: o representante de Dallas, Robert Kaplan, e o da sucursal de Boston, Eric Rosengren.