O GLOBO, n 32.339, 20/02/2022. Mundo, p. 21

Itamaraty rebate acusação da Casa Branca sobre postura do Brasil na crise

Melissa Duarte e Jussara Soares


O Ministério das Relações Exteriores rebateu ontem as declarações da porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, em que afirma que “o Brasil parece estar do outro lado” na crise da Ucrânia. O presidente Jair Bolsonaro visitou a Rússia na última semana e se disse solidário ao país durante encontro com o presidente russo, Vladimir Putin.

Para Psaki, a postura do Brasil vai na contramão de outras lideranças globais — que rechaçam a possibilidade de invasão e de anexação de terras ucranianas. Psaki fez a declaração anteontem, após ser questionada sobre a opinião do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre o caso.

Em nota publicada ontem, o Itamaraty lamentou o caso: 

“As posições do Brasil sobre a situação da Ucrânia são claras, públicas e foram transmitidas em repetidas ocasiões às autoridades dos países amigos e manifestadas no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU). O Ministério das Relações Exteriores não considera construtivas, nem úteis, portanto, extrapolações semelhantes a respeito da fala do Presidente”, diz o comunicado. 

Além da nota, integrantes do Itamaraty dizem que não há “fundamentos para uma guerra de narrativas”. Afirmam que o Brasil, como reiterado pelo presidente em Moscou, sempre deixou claro que está do lado da paz e da solução diplomática e negociada para as tensões na Ucrânia. Segundo esses servidores do ministério, não há declarações que fogem dessa linha.

 Ao GLOBO, um integrante do governo dos EUA reiterou acrítica:

—Podemos lembrar que, várias vezes, os EUA pediram que o Brasil desse uma resposta forte à Rússia, disse que o momento [da viagem] não era adequado —afirmou sob condição de anonimato. 

Bolsonaro não explicou a que se referia quando declarou solidariedade. Quando questionado por repórteres, afirmou que era solidário “desde que busquem a paz”. 

No encontro no Kremlin, Bolsonaro e Putin indicaram que a expectativa é de aumentar a cooperação entre os dois países. Apesar das restrições impostas pela pandemia, o comércio bilateral cresceu 87% em 2021, salientou Putin.