O GLOBO, n 32.339, 20/02/2022. Política, p. 12
Lula cancela agenda política no Rio após tragédia em Petrópolis
Cibelle Brito e Filipe Vidon
Visita ao estado começaria hoje e incluía encontros com Freixo e Ceciliano
Pré-candidato ao Palácio do Planalto, o ex-presidente Lula adiou visita ao Rio, prevista para começar hoje. O principal motivo foi a tragédia em Petrópolis, onde pelo menos 140 pessoas morreram após as fortes chuvas que atingiram a cidade. Segundo dirigentes do PT, o momento não é o ideal para promover qualquer agenda que esteja fora do escopo que afeta a Região Serrana do estado. Um dos compromissos previstos era um encontro com o pré-candidato do PSB ao Palácio Guanabara, deputado Marcelo Freixo, que tem o apoio de Lula.
A visita, que ainda não tem nova data para acontecer, também previa reunião com o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), segundo a colunista Bela Megale, do GLOBO. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), chegou a articular, com o apoio do PT local, lançar o nome de Ceciliano para o Palácio Guanabara. O movimento, no entanto, não foi chancelado pela direção nacional do partido, que manteve o compromisso com Freixo.
Paes pretende construir uma terceira via no estado para tentar romper a polarização entre o governador Cláudio Castro (PL), que disputará a reeleição com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, e Freixo. O prefeito lançou o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Felipe Santa Cruz, mas depois fechou aliança com o PDT, que tem como pré-candidato o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves. Paes ficou contrariado com o apoio de Lula ao deputado do PSB e tem insistido que Freixo não seria capaz de derrotar Castro em eventual segundo turno.
No Rio, Lula também teria um encontro com o cantor Martinho da Vila e visitaria a deputada federal Benedita da Silva (PT), que se recupera de uma cirurgia.
— A tragédia fez o Lula rever sua visita ao estado. Este é um momento de sensibilidade à tragédia — afirmou o presidente municipal do PT, Tiago Santana, ressaltando que o ex-presidente descartou uma visita à região temendo que o gesto fosse visto por um “viés eleitoral”.
PANOS QUENTES
Após uma troca de farpas entre Freixo e Castro (PL), que usou as redes sociais para contestar a ida do adversário a Petrópolis, o deputado tentou botar panos quentes ontem e defendeu a união de todos para ajudar os atingidos pelas fortes chuvas. Freixo disse ainda que iria telefonar para o governador.
Na tarde de sexta-feira, Castro afirmou que Freixo é “o maior oportunista que já conheceu” e o definiu como “uma espécie de Zé do Caixão da política”. Em resposta, o deputado disse ser “uma pena que no momento em que a população tanto precisa, tenhamos um governador tão despreparado e desequilibrado”. Ontem, o pré-candidato do PSB a governador baixou o tom:
—O espírito tem que ser de união, não cabe qualquer divergência ou diferença política diante de uma tragédia como essa. Todo mundo tem que conversar, trabalhar junto e esse deve ser o espírito. Estou conversando com ministros, tentando ajudar, e o mais importante é ir nos lugares, ouvir as pessoas e saber o que estão precisando.
O prefeito Eduardo Paes chegou a entrar na briga, mas depois apagou a postagem no Twitter.
“Alguns ensinamentos políticos: quando um determinado governante deseja e escolhe adversário preferencial, em razão da certeza da vitória, o melhor caminho é chamar para o confronto direto para dar protagonismo a este adversário. Atenção ao jogo do Rio. Não podemos errar de novo”, escreveu ele.