O Estado de S. Paulo, n. 48103, 30/06/2025. Economia & Negócios, p. B2

Alta de preços faz 43% dos consumidores trocarem marca do café
Márcia de Chiara

 

A pesquisa Ipsos-Ipec encomendada pelo C6 Bank apontou que o café, vilão da inflação dos alimentos nos últimos tempos por causa da disparada de preços, levou 43% dos brasileiros a mudarem de marca. O produto ficou 81,62% mais caro em 12 meses até junho, de acordo com o IPCA-15. Em junho, o café subiu 2,86%, um ritmo menor do que o registrado em maio (4,82%). Mas os preços continuam em patamar elevado.

O engenheiro civil aposentado Dante Venturini, de 69 anos, até tentou trocar a marca de café que usa, mas não conseguiu. “Mudei para experimentar, mas os cafés que a gente gosta efetivamente são um pouco mais caros.”

Venturini conta que voltou a comprar as marcas habituais de café e a saída para equilibrar o orçamento foi economizar em outros itens. A carne de primeira, por exemplo, foi substituída pela de segunda, por frango ou ovos. “Também estamos buscando refeições com carne de porco porque, em geral, é mais barata.”

Já para a funcionária pública aposentada Iara Damasceno, de 59 anos, a inflação de alimentos piorou “e muito” nos últimos meses. Atualmente, ela gasta cerca de R$ 3 mil por mês nas compras, R$ 1 mil a mais do que um ano atrás. “Isso, fazendo todas as substituições e não comendo as mesmas coisas.”

Iara trocou a marca não só do café, mas de outros produtos. Como Venturini, ela substituiu a carne por frango e por ovos. “O ovo também subiu muito e a gente fica caçando as cartelas mais baratas.”

Segundo o BMG, preços dos alimentos devem ter comportamento favorável nos próximos meses

No caso do queijo e do iogurte, a sua família consome hoje um terço do que consumia no passado por causa do encarecimento desses itens. Ela conta que chegou a comprar uma segunda geladeira só para armazenar os laticínios.

FEITO EM CASA. Também adepta do iogurte, a aposentada Ivania Alves Chagas Sanches, de 70 anos, adotou outra estratégia para escapar da alta de preços: começou a fazer iogurte em casa. “Compro dois (potes) e multiplico”, conta.

Indignada com o preço do café, Ivania trocou de marca e passou a tomar chá. “O (preço do) café está indomável.” No caso do azeite, ela reduziu o consumo e trocou de marca. A pesquisa mostra que 40% dos brasileiros deixaram de consumir azeite de oliva nos últimos seis meses. Em relação ao comportamento da inflação dos alimentos em geral, a aposentada diz que está havendo alguma melhora, mas de forma muito lenta. “Ainda não dá para comemorar.”

PERSPECTIVA. Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG, acredita que será preciso alguns meses de queda persistente de preços dos alimentos para a população ter a sensação de que o quadro inflacionário está melhorando. “Para quem gastava R$ 100 no supermercado e passou a gastar R$ 200, não basta passar a gastar R$ 198 para achar que houve melhora.”

Na perspectiva do economista, os preços da alimentação no domicílio devem ter comportamento favorável nos próximos meses. “Em junho, julho e agosto, é provável que tenhamos taxas de inflação de alimentos muito baixas”, prevê, ressalvando que o preço da comida poderá voltar a subir no final do ano.