VALOR ECONÔMICO, n 5416, 13/01/2022, Empresas, B6

Digitalização impulsiona o turismo

 Rafael Rosas

 

Os esforços em prol da inovação por parte da Organização Mundial do Turismo (OMT), órgão da Organização das Nações Unidas para o setor, levaram a investimentos e captações de fundos de mais de US$ 135 milhões em startups nos últimos quatro anos. O investimento em tecnologia, que era crescente, aumentou na pandemia e somou, em 2020, segundo a OMT, mais de US$ 20 bilhões no mundo, em um ano em que o setor de turismo como um todo caiu 75% e os investimentos estrangeiros na indústria turística global recuaram 74% relativamente a 2019.

Uma das lições que a covid-19 deixa é produzir “um discurso coordenado em todo o mundo, indicando que a digitalização não está mais em dúvida”, diz Natalia Bayona, diretora do Departamento de Inovação, Educação e Investimentos da OMT.

Bayona afirma que esse impulso rumo à inovação tecnológica começou há quatro anos, quando assumiu o cargo na organização. Desde então, a OMT contabiliza em seus eventos e desafios entre startups a participação de mais de 12 mil empresas do tipo, vindas de mais de 150 países.

“O objetivo principal da OMT é fortalecer o ecossistema de inovação e empreendimento dos diferentes países e ajudar a construir um ecossistema global”, afirma a diretora da OMT.

Bayona participa da Rio Innovation Week (RIW), que começa hoje no Rio, e ressalta que essas pequenas empresas atraem a atenção de gigantes como Google, Amazon e Mastercard, interessados em soluções tecnológicas para o setor.

diretora da OMT destaca a importância do Brasil para inovação no turismo. Segundo ela, a organização, em parceria com o Ministério do Turismo brasileiro, desenvolveu chamadas e desafios entre startups no país. O resultado pode garantir acesso a uma rede de “network” da OMT que conta com mais de 200 investidores, 300 empresas do setor privado interessadas em inovar, mais de 10 mil startups e mais de 100 universidades e as agências da ONU que trabalham com inovação.

Bayona ressalta que, no Brasil, os trabalhos promovidos pela OMT atraíram companhias de todos os Estados. Além disso, chama a atenção que, de todas as startups que se candidataram a participar dos eventos no país, 30% foram fundadas ou eram lideradas por mulheres.

Uma vez selecionadas nas etapas nacionais, as startups brasileiras tiveram a oportunidade de fazer parte da comunidade empreendedora da OMT e de ter acesso para a competição global de startups, apresentando-se em diferentes fóruns de inovação a nivel global organizados pela OMT.

“É uma oportunidade para os empreendedores que estão criando soluções no Brasil para que as apresentem a ministros [de turismo] de outros países, a investidores de outros países. E isso nos ajuda a que o concurso de startups aqui seja exemplo para outros países da América Latina e do mundo, em regiões que queiram fortalecer o ecossistema de empreendedorismo e desejem premiar os empreendedores que estão focados na inovação”, observa.

Ela ressalta que o grande desafio para as startups brasileiras ligadas ao turismo é a internacionalização de suas operações, principalmente para outros países da América Latina e para nações que têm o português como língua oficial.

Bayona destaca que o setor de turismo vive sua terceira revolução tecnológica. A primeira foi produzida pela internet, a segunda veio com as agências on-line e as startups representam esta terceira fase. “O positivo é que boa parte delas já se tornou grandes empresas de tecnologia, como o Airbnb”, diz a diretora da OMT.

Outra diferença dessa terceira revolução é que agora as empresas tradicionais não veem mais a transformação digital como inimiga. “Hoje, e mais ainda depois da covid-19, as empresas tradicionais adotaram o discurso de que a transformação digital é um apoio”, pondera.

Segundo a executiva, a covid-19 contribuiu para essa percepção, pois, com o fechamento das fronteiras e as limitações de circulação em todo o mundo, as empresas que não tinham uma estratégia de comunicação digital se deram conta de que havia uma necessidade real de fazer um investimento em tecnologia, “porque o risco de morrer por não estar digitalizado era muito alto em tempos de covid”. Ela lembra que outra mudança trazida pela pandemia foi a retomada das agências de viagens, cuja sobrevivência antes da covid era posta em dúvida. Atualmente, a segurança trazida por esse tipo de empresa passou a ser um diferencial em tempos de fronteiras fechadas e mudanças bruscas de regras de circulação.

Bayona elenca ainda algumas iniciativas tomadas pela OMT para fazer frente à pandemia e cita o programa “UNWTO Healing Solutions Challenge”, um desafio para empreendedores onde surgiu o “passaporte covid”.