O Estado de S. Paulo, n. 48103, 30/06/2025. Economia & Negócios, p. B1
Preço fez 69% desistirem de algum item no supermercado
Márcia de Chiara
Desde o início do ano, 69% dos consumidores brasileiros deixaram de levar para casa algum item por causa da inflação, informa Márcia De Chiara. Entre as alternativas para conseguir cumprir minimamente a lista de compras, 44% trocaram marcas caras por mais baratas, de acordo com levantamento Ipsos-Ipec feito a pedido do C6 Bank. Houve também redução nos volumes comprados, com 35% dos consumidores reduzindo as quantidades de café e 24% deixando de levar para casa iogurte. No caso de proteína animal, 35% trocaram carne bovina de primeira por cortes mais em conta. Apesar de a inflação da comida começar a dar sinais de trégua, a pesquisa mostra que essa mudança nos preços ainda não foi sentida pela população em geral. Em 12 meses, a inflação de alimentos e bebidas acumula alta de 6,94%, segundo o IPCA-15.
Nove meses seguidos de preços de alimentos nas alturas mudaram o comportamento do brasileiro nas compras de supermercado em geral. Neste ano, 69% deixaram de levar para casa algum item por causa da inflação elevada. Entre as alternativas para conseguir cumprir minimamente a lista de compras, 44% trocaram marcas caras por mais baratas.
Houve também corte nos volumes comprados, com 35% dos consumidores reduzindo as quantidades de café e 24% deixando de levar para casa iogurte, um dos produtos que entraram para cesta de compras dos brasileiros com o Plano Real. No caso das proteínas, 35% dos consumidores trocaram carne bovina de primeira pela carne de segunda, por porco ou por frango, que custam menos.
Os dados são de um levantamento nacional feito pelo instituto de pesquisas Ipsos-Ipec a pedido do C6 Bank. Foram ouvidos 2 mil internautas, de todas as classes sociais, entre o final de maio e meados de junho. E as respostas se referem ao comportamento de compras dos últimos seis meses.
Apesar de a inflação da comida começar a dar os primeiros sinais de trégua, os resul
Em 12 meses até junho, inflação de alimentos e bebidas acumula alta de 6,94%, segundo o IPCA-15
tados da pesquisa mostram que essa mudança nos preços ainda não foi sentida pela população em geral.
Na prévia da inflação de junho, os preços de alimentos e bebidas recuaram, em média, apenas 0,02%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor-15 (IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a primeira queda depois de nove meses seguidos de alta. Em 12 meses até junho, a inflação de alimentos e bebidas acumula um aumento de 6,94% de acordo com o IPCA-15. É um resultado que está bem acima da inflação geral de 5,27%.
Esse longo período de alta de preços, sobretudo de alimentos, que respondem por quase um quarto do orçamento doméstico, tirou o poder de compra da população. A aposentada Margarita Barreiros, de 74 anos, por exemplo, diz que a inflação de alimentos não diminuiu. “Se for comparar com um ano atrás, a diferença de preços é enorme”, observa. Hoje, cada vez que vai ao supermercado, ela gasta R$ 200; no ano passado desembolsava a metade.
Para Márcia Cavallari, CEO do Ipsos-Ipec, apesar da desaceleração da inflação apontada pelos índices, o nível de preços continua alto. “Não adianta falar que a inflação está baixa, se os preços estão num patamar elevado”, observa ela.
Além disso, Márcia aponta outras variáveis que contribuem para a mudança de comportamento do consumidor nas compras do dia a dia, como a percepção concreta de que, com o mesmo valor gasto no mês anterior, ele leva para casa uma quantidade cada vez menor de produtos.