O GLOBO, n 32.340, 21/02/2022. Saúde, p. 8
VACINAS EM ESPERA
Mariana Rosário
Mais de 32 milhões estão em atraso com dose de reforço contra a Covid
Pelo menos 32,9 milhões de brasileiros que já poderiam estar com a terceira dose de vacina contra a Covid -19 no braço ainda não apareceram nos postos, de acordo com levantamento do GLOBO. Sensação de segurança com as primeiras doses de imunização, notícias falsas, efeitos adversos das primeiras aplicações e falta de comodidade para receber o reforço são explicações dadas pelas secretarias estaduais de saúde para o grande número de fujões.
Todos os estados foram consultados pela reportagem entre terça e quinta-feira da semana passada. Ao todo ,18 secretarias estaduais responderam. No Rio de Janeiro e no Paraná, apenas as capitais disponibilizaram os dados. As demais unidades da federação não responderam ou disseram não ter as informações.
SÃO PAULO RECORDISTA
O estado com mais atrasados é também o mais populoso: São Paulo, que acumula 8 milhões de pessoas aptas à terceira dose que não apareceram nos postos, seguido pelo Pará, com 3,3 milhões, Minas Gerais, com 3 milhões, e Bahia, com 2,7 milhões. Como medida de controle da variante Ômicron, o reforço deve ser dado no Brasil quatro meses após a segunda dose, de acordo com o Ministério da Saúde.
A alta taxa de infectados no começo do ano também é apontada como fator que pode ter complicado o cenário pois, após a infecção, é preciso esperar 30 dias até receber um imunizante.
À frente da pasta da Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti avalia que existia certo apelo para as primeiras aplicações, o que passou. Ele exemplifica que, antes, muitos postavam nas redes que foram receber as agulhadas, algo mais raro nos tempos atuais. O secretário ainda diz que a falta de comodidade pode ser fator determinante para que parte da população não tome o reforço.
— É preciso que o processo seja menos burocrático e complexo em relação às datas de vacinação e locais. Pedimos que os municípios abram os postos para vacinar qualquer pessoa, sem data específica. Está sobrando vacina e há baixa demanda —afirmou.
Alguns estados, caso do Mato Grosso do Sul e da Bahia, orientam que os municípios realizem busca ativa dos faltosos —isto é, tentem encontrar quem está em débito com a vacinação. No Tocantins, a aposta é em programas educativos a favor da imunização nas redes sociais, rádio e TV.
—Pedimos que os municípios enviem mensagens, usem carro de som e coloquem agentes para identificar quem precisa das doses. Também temos de chegar aos antivacina, que fazem nosso trabalho ser mais difícil — diz Geraldo Resende, secretário de Saúde do Mato Grosso do Sul.
Em São Paulo, a pasta diz que mantém alertas por SMS e e-mail para lembrar a data de retorno. Já Curitiba envia mensagens por meio de aplicativo de celular.
O Espírito Santo, por outro lado, adotou um sistema de passaporte vacinal. O comprovante deve ser baixado em um aplicativo do governo, que mostra quem está com doses em dia (ou atrasadas ). De acordo com Nésio Fernandes, à frente da pasta da Saúde capixaba e vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), após a inclusão da medida, em meados de janeiro, a procura por imunizantes nos postos subiu: tanto para primeira dose, quanto para o reforço.