O Estado de S. Paulo, n. 48123, 20/07/2025. Economia & Negócios, p. B1

Dívida e inflação sobem nos EUA em seis meses de governo Trump
Luiz Guilherme Gerbelli

 

Indicadores mostram balanço negativo para o país. Economia tende a crescer menos nos próximos anos.

O retorno de Donald Trump para a Casa Branca chacoalhou não só o mundo, mas o próprio país. Hoje, quando chega à marca de seis meses do seu segundo mandato, o republicano caminha para deixar como legado – ao menos por ora – uma economia que deve crescer menos nos próximos anos e uma conjuntura mais arriscada.

“É difícil ver os primeiros seis meses de um governo tão ruim como esse na histórica americana”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Se a gente for comparar com os presidentes das últimas décadas, Trump entra na história como o pior de todos. Ele não fez nenhuma medida adequada que possa ser positiva para a economia dos EUA e mundial.”

No primeiro trimestre do ano, a antecipação de importação – motivada pelo anúncio da entrada em vigor das tarifas impostas por Trump – levou o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA a recuar, e a inflação já dá alguns sinais de que as empresas começam – ainda que de forma tímida – a repassar o impacto das tarifas para os consumidores. “Boa parte

“Difícil ver os primeiros 6 meses de um governo tão ruim como esse na histórica americana”

Sergio Vale Economista-chefe da MB Associados

do mercado esperava ver um impacto mais rápido das tarifas. Ou seja, um repasse do aumento das tarifas para o consumidor”, afirma Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital. “Isso começou a ocorrer nos dados de junho. É um processo ainda inicial.”

Em junho, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% ante maio. Na comparação anual, o avanço foi de 2,7%.

INCERTEZAS. Com um cenário de incertezas, a missão do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de trazer a inflação para a meta de 2% também ficou mais árdua. E há outro ingrediente de dificuldade: os ataques de Trump ao presidente do BC americano, Jerome Powell.

Publicamente, o presidente dos EUA tem defendido uma queda das taxas de juros no país. O republicano negou a possibilidade de demitir Powell, cujo mandato vai até janeiro de 2028. “Uma das grandes vantagens do mercado americano é que há uma noção de que as regras são muito respeitadas”, afirma Gesner Oliveira, sócio executivo da consultoria GO Associados. “Pela primeira vez desde que os Estados Unidos se tornaram uma potência, isso está sendo questionado, o que acaba aparecendo nas (altas das) taxas de juros dos títulos do Tesouro americano e numa certa desvalorização da moeda americana. Claramente, você tem uma dúvida em relação à segurança jurídica nos EUA.” A economia americana ainda lida com uma incerteza do lado fiscal.