O GLOBO, n 32.341, 22/02/2022. Economia, p. 14

Dólar recua a R$ 5,10, menor cotação em 7 meses

Vitor da Costa


Real tem se beneficiado da entrada de recursos estrangeiros. Analistas avaliam que tendência continua positiva a curto prazo, mas alertam que um conflito entre Rússia e Ucrânia fará moeda americana subir

O dólar comercial fechou ontem em seu menor patamar em sete meses. A moeda americana recuou 0,64%, a R$5,1070, a menor cotação desde 9 de julho de 2021, quando a divisa encerrou aR $5,0792.

O Brasil tem se beneficiado da entrada de dólares, com ingresso de investidores estrangeiros e maior valor das exportações de matérias-primas, o que valoriza o real frente à moeda americana. Há ainda o fato de estarmos com um patamar de juros alto (10,75% ao ano), o que atrai mais dólares do exterior e força para baixo a cotação da moeda americana no Brasil, ressalta HideakiIh a, operador de câmbio da Fair Corretora:

— Tem entrado muito dinheiro na nossa Bolsa. A alta das commodities e nossa Selic também ajudam.

Até 17 de fevereiro, o fluxo estrangeiro no segmento secundário da B3, aquele com ações já listadas, estava positivo em R$ 53,7 bilhões.

Segundo o diretor da FB Capital, Fernando Bergallo, o período em que a Taxa Selic se manteve na mínima histórica de 2% afetou a atratividade do real frente a outras divisas.

— Está reverberando a alta de juros que nós tivemos em 2021. É natural que, retornando os juros a um patamar de prêmio que faça frente ao risco do país, o investimento volte — disse Bergallo, que vê um patamar de equilíbrio para o câmbio entre R $5 e R $5,10.

BOLSA RECUA 1%

O diferencial entre as taxas praticadas aqui e as do mercado externo estimula a prática do carry trade, que consiste em tomar o dinheiro em países onde os juros são baixos e investir naqueles com índices maiores e que dão mais rentabilidade.

Iha vê uma tendência positiva para o real no curto prazo. Mas ressalta que fatores tanto externos, como uma invasão russa na Ucrânia —e ontem à noite o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou a entrada de tropas nas repúblicas separatistas ucranianas de Luhansk e Donetsk —, quanto internos, com destaque para o cenário fiscal, podem prejudicar o real.

— Em um primeiro momento, você vai ver isso (valorização do dólar). Essa invasão não vai beneficiar ninguém —disse o operador.

O Banco Central começa hoje a rolar contratos de swap cambial (troca de moeda estrangeira) com vencimento em 2 de maio de 2022, no total de US$ 13,6 bilhões.

Enquanto isso, o Ibovespa, principal índice da B3, teve um dia negativo: encerrou em queda de 1,02%, aos 111.725 pontos, refletindo o cenário externo. O mercado americano não funcionou, devido ao feriado do Dia do Presidente, e as Bolsas europeias fecharam em baixa com o temor da escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia.

O CAC-40, de Paris, recuou 0,39%, enquanto o DAX, de Frankfurt, perdeu 2,07%. Em Londres, o FTSE caiu 2,04%.

PETRÓLEO PUXA PETROBRAS

O cenário geopolítico puxou os preços do petróleo. O barril do tipo Brent avançou 4,08%, a US$ 97,36. Já o WTI subiu 3,16%, a US$ 93,95.

Com isso, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras subiram 2,70%, a R$ 36,84, e as preferenciais (PN, sem voto) avançaram 2,58%, a US$ 33,85.

A maior alta do Ibovespa foi dos papéis ON da 3R Petroleumon: 3,87%, a R$ 37,04.