O GLOBO, n 32.342, 23/02/2022. Política, p. 6

Pressionado, Doria admite desistir de candidatura

Ivan Martínez-Vargas e André de Souza


Lidando com dissidências no PSDB, governador diz que sua campanha deve convergir com Simone Tebet e Sergio Moro no futuro. O ex-juiz concorda com a tese de união, desde que ele próprio seja o cabeça de chapa


Pressionado em meio à baixa intenção de votos nas pesquisas e lidando com resistências no PSDB, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou ontem que poderá abrir mão de sua pré-candidatura à Presidência em nome da viabilidade de uma terceira via. Segundo ele, sua campanha e as précandidaturas do ex-juiz Sergio Moro (Podemos) e a da senadora Simone Tebet (MDB) devem convergir para um único nome no futuro. Moro também defendeu ontem a união das candidaturas de centro, mas afirmou que não pretende abdicar da cabeça de chapa porque aparece na terceira colocação nos levantamentos, em empate técnico com o presidenciável do PDT, Ciro Gomes.

A declaração de Doria, durante evento virtual do banco BTG Pactual, ocorre num momento em que uma ala do PSDB questiona a viabilidade eleitoral do governador de São Paulo. Formado por ex-presidentes do partido, como o deputado Aécio Neves e os ex-senadores José Aníbal e Tasso Jeiressati, um grupo anti-Doria articula uma nova reunião em março para aumentar a pressão para a retirada da candidatura do paulista.

O plano do grupo é atrair a bancada federal, que já havia ficado contra Doria nas prévias, além de governadores e candidatos nos estados. O argumento dos tucanos descontentes é que existe um risco de que a alta rejeição do eleitorado a Doria contamine o resultado dos correligionários.

—Não vou colocar o meu projeto pessoal à frente daquilo que sempre foi a índole. O meu país é mais importante do que eu mesmo. Se chegar lá adiante e, lá adiante, eu tiver de oferecer o meu apoio para que o Brasil não tenha mais essa triste dicotomia do pesadelo de ter Lula e Bolsonaro, eu estarei ao lado daquele ou de quantos forem os que serão capacitados para oferecer uma condição melhor para o Brasil — disse Doria.

O governador afirmou que as medidas de combate à pandemia que anunciou, como restrições de funcionamento a estabelecimentos comerciais e o uso de máscaras, influenciaram diretamente em sua popularidade baixa. Ele acredita, no entanto, que poderá reverter isso na campanha.

Ao citar conversas do PSDB com Cidadania, MDB e União Brasil, Doria defendeu que as pré-candidaturas da chamada terceira via se mantenham por enquanto, “até o esgotamento do diálogo pelos líderes partidários”.

— Lá adiante, diante das circunstâncias, verificaremos quem pode, quem precisa abrir mão (da candidatura) —acrescentou Doria.

Em outro painel, foi a vez de Moro defender que o centro político trabalhe por uma candidatura que possa vencer a polarização. Questionado se, assim como Doria, abriria mão de concorrer, ele se mostrou resistente à ideia:

— A gente precisa realmente se unir. Acho que isso é urgente. Eu faria isso (retirar a candidatura para unificar a terceira via) de bom grado. Agora, o que a gente está vendo nas pesquisas... A minha pré-candidatura, eu estou em terceiro lugar desde que me coloquei nessa posição de pré-candidato. Então, não faz sentido abdicar de minha pré-candidatura, se ela é a com maior potencial para vencer esses extremos —afirmou o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro.

TEMPO ESCASSO

Citando especificamente Doria, Moro afirmou que há, na terceira via, outros candidatos que defendem as reformas, com quem seria mais fácil se unir:

— Tem aqui o governador Doria, que tem essa mesma visão (pró-reformas). Então, acho muito factível, que nós possamos nos unir em algum momento desse ano para enfrentar esses extremos —disse Moro.

Ao contrário do governador paulista, o ex-juiz acha que a convergência da terceira via não pode demorar muito tempo:

— Na minha opinião, nós já deveríamos estar unidos. Acho que é uma ilusão achar que a gente tem tanto tempo do mundo, porque os extremos têm máquinas de destruição das pessoas.