O Estado de S. Paulo, n. 48123, 20/07/2025. Economia & Negócios, p. B2
As contas públicas no país da ‘Matemágica’
Luiz Guilherme Gerbelli
As medidas tarifárias adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afetam diretamente o crescimento mundial. Em abril, o Fundo Monetário Internacional reduziu a expectativa de crescimento da economia global de 3,3% para 2,8%. À época, o FMI alertou para o fato de a economia global ser caracterizada por um elevado grau de integração econômica e financeira e indicou que o tarifaço de Trump é uma “importante fonte de turbulência”.
Com as tarifas de importação, Trump detonou uma guerra comercial agressiva e colocou o mundo num cenário de grande incerteza – o que, no limite, inibe os investimentos das empresas e o consumo das famílias. “É uma reviravolta completa. Ele volta 60 anos na política comercial”, diz Gesner Oliveira, sócio executivo da consultoria GO Associados.
MORDE E ASSOPRA. Em seis meses de governo, Trump tem adotado uma política comercial de morde e assopra. No pior momento, analistas ficaram receosos com a possibilidade de um impacto maior na atividade global. Hoje, a leitura é que as tarifas vão prevalecer, mas não serão tão agressivas quanto se imaginava no início do segundo governo do republicano.
Em 2 de abril, no que chamou de Dia da Libertação, Trump anunciou tarifas recíprocas para 185 países. Poucos dias depois, teve de adiar a entrada em vigor da taxação por 90 dias, porque o mercado financeiro entrou em pânico. As empresas chegaram a perder trilhões em valor de mercado e os investidores se desfizeram de títulos dos EUA – num claro sinal de que a economia americana deixava de ser um porto seguro.
Com o fim do prazo, Trump voltou a anunciar tarifas para outras economias – o Brasil recebeu a mais alta, de 50%. A expectativa por alguma negociação entre os países e a distância de um cenário mais radical ajudaram as Bolsas dos EUA a apresentarem alguma recuperação nas últimas semanas.
De acordo com levantamento da Elos Ayta, entre o início do mandato de Trump até 16 de julho, o Dow Jones avançou 1,76%, o Nasdaq subiu 5,61% e o S&P 500, 4,45%.
DÍVIDA PÚBLICA. Neste mês, o Congresso americano aprovou um pacote que piora a situação da dívida pública americana. Apelidado “One Big Beautiful Bill” (Um grande e belo projeto), o projeto deve aumentar o déficit em cerca de US$ 3,3 trilhões (R$ 18 trilhões) ao longo dos próximos anos.
Em maio, a Moody’s Ratings rebaixou a nota dos Estados Unidos de ‘Aaa’ para ‘Aa1’. Na decisão, a agência de classificação de risco destacou o aumento de mais de uma década da dívida do governo.
“Ele (Trump) volta 60 anos na política comercial”
Gesner Oliveira
Consultoria GO Associados
“A questão fiscal também está mal encaminhada. A gente vê o governo dos EUA com uma dívida elevada, tem um déficit público bastante elevado, de quase 8% do PIB. Isso vai demandar um ajuste fiscal significativo”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
“Trump fez a pior escolha possível. Manteve o pacote de 2017 (primeiro ano do seu man
dato anterior) com corte de impostos e fez um pacote em que corta mais imposto para quem é rico e corta benefício social para quem é pobre. Uma das consequências desses seis primeiros meses vai ser piorar ainda mais a desigualdade de renda nos EUA”, finaliza Vale