O GLOBO, n 32.342, 23/02/2022. Política, p. 7
França encontra Lula e sinaliza que pode abrir mão de disputa
Sérgio Roxo
Pré-candidato em SP insiste que pesquisa deve nortear escolha e diz que desiste caso Haddad apareça em vantagem
Após uma reunião de duas horas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem à tarde, o ex-governador Márcio França (PSB) afirmou acreditar que o seu partido e o PT estarão juntos na eleição de São Paulo. França disse ao petista que uma pesquisa é o melhor jeito de escolher se o candidato a governador deve ser ele ou o ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Segundo o socialista, se o resultado for favorável ao petista, ele abre mão da pré-candidatura.
— Naturalmente, o PSB tem uma tendência já consolidada de caminhar junto (com o PT) no Brasil. E, em São Paulo, ele (Lula) vai conversar com Haddad e a Gleisi (Hoffmann), e acho que vamos estar juntos — disse França na saída do encontro.
Na reunião, após insistir que a definição entre ele e Haddad deva ocorrer com base em pesquisas, França disse acreditar ter condições de alcançar um espectro mais amplo do eleitorado, principalmente no interior do estado, onde a rejeição ao PT é maior. Nos levantamentos recentes, ele aparece em desvantagem em relação a Haddad nas intenções de voto, embora com menos rejeição.
— Se, por acaso ele, (Haddad) estiver na frente, eu não tenho nenhum problema (em tirar a candidatura). Agora, se eu estiver na frente, ele também não tem que ter problema —disse França.
FEDERAÇÃO E ALCKMIN
Na avaliação de Lula, um acordo em São Paulo sinalizaria um entendimento mais amplo entre o PT e o PSB e garantiria, no mínimo, uma aliança nos moldes tradicionais. O petista não alimenta grandes expectativas de ver o PSB em uma federação com o PT neste ano.
Um acordo entre Haddad e França também teria impacto na filiação do ex-governador paulista Geraldo Alckmin ao PSB, o que selaria sua entrada na chapa de Lula como vice. Alckmin espera o acordo antes de bater o martelo sobre seu futuro partido.
Outro petista que vê dificuldades na formação da agremiação com o PSB é Haddad. Também ontem, num almoço com presidente nacional do PV, José Luiz Penna, o ex-prefeito afirmou que considera difícil a entrada dos socialistas na federação, também negociada com PV e PCdoB. Penna reiterou que apoiará o candidato ao governo paulista que for definido pelo grupo.
O PSB vem dando sinais que apoiará o PT mesmo sem a agremiação. Anteontem, no lançamento da pré candidatura de Danilo Cabral (PSB) ao governo de Pernambuco, dirigentes da sigla declararam que o partido estará com Lula.
No último fim de semana, surgiram dois novos impasses para o acordo. O PSB anunciou a filiação do governador da Paraíba, João Azevêdo, pré candidato à reeleição. Liderados pelo ex-governador Ricardo Coutinho, os petistas apoiam o senador Veneziano Vital (MDB). No Espírito Santo, o PT lançou o senador Fabiano Contarato depois do atual governador, Renato Casagrande (PSB), receber o ex-juiz Sergio Moro (Podemos).