O GLOBO, n 32.343, 24/02/2022. Economia, p. 13
PETROBRAS LUCRA R$ 106,6 BILHÕES
Estatal tem ganho recorde e vai distribuir R$ 101 bi em dividendos
O aumento do preço do petróleo e a alta nas vendas de combustíveis fizeram a Petrobras registrar no ano passado um lucro líquido de R$ 106,6 bilhões (ou US$ 19,875 bilhões). É o maior de sua história e 1.400% superior ao ganho de R $7,10 bilhões (US$ 1,141 bilhão) obtido em 2020.
Com a escalada no preço do petróleo no ano passado —de 77%, no valor do barril em reais —, analistas já esperavam que o lucro alcançasse o patamar de R$ 100 bilhões. Mas parte do mercado foi pega de surpresa pela decisão da companhia de ampliar os dividendos relativos a 2021 de R$ 63,4 bilhões para R$ 101,4 bilhões. Trata-se do maior compartilhamento de ganhos da companhia com investidores em sua história. As ações preferenciais (sem voto) subiram 1,42%, a R$34,22.
Segundo a companhia, o dividendo é baseado na diferença entre caixa e investimentos previstos. Do total de dividendos, 28,67% serão destinados à União, que receberá R$ 37,3 bilhões.
Além da disparada do preço do petróleo, analistas e a própria estatal destacam os maiores volumes de venda de combustíveis no mercado interno. Em 2021, a Petrobras vendeu 409 mil barris de gasolina por dia, alta de 19,1% em relação ao ano anterior. As vendas de diesel alcançaram 801 mil barris por dia, avanço de 16,7% na mesma base de comparação. A venda de óleo combustível saltou 51%, e ade gás natural aumentou 25%, sob impacto de maior uso de usinas termelétricas no país por causa da crise hídrica. Assim, a receita de vendas da estatal ficou em R$ 452,668 bilhões em 2021, alta de 66,4% em relação a 2020.
A companhia também ressalta que houve reversão de R$ 16,9 bilhões de impairment (baixa contábil) devido a revisões das projeções do preço médio do barril do Brent de curto prazo.
RETOMADA DE ATIVIDADES
Parte do ganho da estatal, dizem especialistas, deve-se ao fato de a Petrobras estar repassando as altas do petróleo e do câmbio aos preços dos combustíveis. Desde o início do ano passado, gasolina e diesel acumulam alta superior a 50% na bomba. Há três semanas, o litro da gasolina ultrapassou pela primeira vez os R$ 8, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Assim, a receita com a venda de gasolina em 2021 subiu 100%, para R$ 64,2 bilhões. No diesel, a receita avançou 84,1%, para R$ 130,6 bilhões. Juntos, os dois combustíveis respondem por 72% dos negócios da companhia. Segundo a estatal, a receita cresceu em razão da alta do Brent e do aumento da demanda no mercado interno com a retomada da atividade econômica.
— O super lucro da Petrobras reflete o aumento das vendas de derivados no mercado interno e a pujante elevação dos preços de derivados no mercado interno, os quais acompanharam a política de preços de paridade de importação (PPI) da companhia — disse o pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma dos Santos.
“A Petrobras gerou resultados consistentes no quarto trimestre, mostrando que uma empresa saudável e comprometida com a sociedade é capaz de crescer, investir, gerar empregos, pagar tributos e retornar dinheiro aos seus acionistas, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento do país. Nada disso seria possível para uma empresa endividada sem capacidade de gerar valor”, escreveu o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, em carta aos acionistas.
Além dos R$ 37,3 bilhões que a União vai receber como dividendos, há outros R$ 202,9 bilhões em pagamentos de tributos e participações governamentais a estados, municípios e governo federal.
—Um dos fatores principais para puxar a receita da companhia é o avanço no preço do petróleo, que permaneceu acima de US $80 o barril na maior parte do quarto trimestre de 2021 — disse Rafael Chacur, sócio da SFA Investimentos.
DESAFIO DA PRODUÇÃO
Chacur cita desafios, como a queda de 2,2% na produção em 2021, para 2,77 milhões de barris de óleo equivalente diários.
— A Petrobras reportou produção mais baixa, impactada por paradas de manutenção. Creio que o principal desafio para 2022 seja manter sua estratégia de desinvestimento, tendo em vista a aproximação do cenário eleitoral.
No ano passado, a empresa reforçou seu caixa com a venda de ativos de US $4,8 bilhões em 2021, incluindo a conclusão da venda da Rlam (na Bahia), que representa cerca de 13% da capacidade de refino do Brasil, por US$ 1,8 bilhão, e conclusão da oferta das ações da Petrobras Distribuidora, no valor de US$ 2,2 bilhões. Isso ajudou a reduzir a dívida bruta em 22% no ano, que fechou dezembro em US$ 58,7 bilhões.
Por outro lado, analistas criticaram o aumento das despesas. Em 2021, o custo dos produtos vendidos cresceu 57%, com maiores gastos com importações, fruto de maiores volumes de petróleo, derivados e gás natural e de maiores preços de Brent e de GNL (gás em estado líquido). A estatal cita o aumento do GNL na composição das compras de gás natural, com alta de 188% no volume de importações para atender à demanda.
Para Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa Investimentos, a Petrobras teve um resultado sólido, com forte geração de caixa:
—O número veio em linha com a expectativa, já que a empresa vem focando no pré-sal, que responde por 70% da produção.