O Estado de S. Paulo, n. 48125, 22/07/2025. Economia & Negócios, p. B2

Setor privado quer negociar com empresas nos EUA
Cristiane Barbieri
Aline Bronzati


O setor privado brasileiro está se organizando para ir aos Estados Unidos negociar com empresas daquele país medidas a serem adotadas por conta do tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros anunciado pelo presidente Donald Trump. Segundo Raul Jungmann, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), a proposta foi apresentada ontem, em reunião online, ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.

“Já tínhamos essa intenção, e o vice-presidente apoiou a ideia de o setor privado brasileiro conversar com o setor privado nos EUA e, havendo disposição, também com o Congresso e o governo americano”, afirmou Jungmann.

Num primeiro momento, devem participar da viagem as empresas associadas ao Ibram, que abriga mineradoras, siderúrgicas, empresas de engenharia e outras. Há, porém, a possibilidade de diferentes setores também fazerem parte da comitiva, como sugerido pelo vice-presidente. A reunião de ontem com Alckmin teve a participação de 132 representantes do setor de mineração, de empresas como Vale, Samarco, Anglo American, AngloGold Ashanti e ArcelorMittal.

Alckmin afirmou aos empresários do setor que o governo brasileiro dá preferência ao diálogo com os EUA para, pelo menos, conseguir mais prazo para a vigência das tarifas – “entre 60 e 90 dias” –, para haver tempo hábil para negociar as várias questões envolvidas com o tema tarifário.

Representação

Reunião com Alckmin teve participação de executivos de empresas como Vale, Samarco e Anglo American

De acordo com Jungmann, apesar de o cenário em relação à sobretaxa ainda estar bastante incerto, as empresas “ficam no aguardo, mas vão tomando providências”. Isso porque há um fluxo de produção, logística e contratual que precisa ser respeitado e que tem impactado cada empresa de forma diferente.

No caso da mineração, os EUA respondem por 20% das importações e 3,5% das exportações do setor.

NA JUSTIÇA. Nos Estados Unidos, o anúncio da taxação de 50% contra o Brasil já foi parar na Justiça. A Johanna Foods, distribuidora de suco de laranja no país, abriu uma ação contra o tarifaço, alegando que terá custos adicionais de US$ 68 milhões nos próximos 12 meses, o que elevaria entre 20% e 25% o preço que os consumidores pagam pela bebida.

A ação foi aberta na sexta-feira passada no Tribunal de Comércio Internacional dos EUA. A companhia responde por quase 75% de todo o suco de laranja vendido nos EUA, atendendo às principais redes varejistas e de atacado como Walmart, Sam’s Club, Aldi, Wegman’s, Safeway e Albertsons.

“A imposição pelo presidente ( Trump) de uma tarifa de 50% ( ou mais) sobre o suco de laranja brasileiro causará um dano financeiro significativo e direto às ( companhias) requerentes e aos consumidores americanos”, justifica a empresa na ação. Os US$ 68 milhões em custos previstos pela nova taxação ultrapassariam qualquer lucro anual em 30 anos de operação, diz. •