O Estado de S. Paulo, n. 48125, 22/07/2025. Internacional, p. A13
Extremismo quer reeditar práticas intervencionistas, diz Lula no Chile
“Temos de atuar juntos”, afirmou brasileiro em encontro de presidentes de esquerda e do primeiro-ministro espanhol.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, durante encontro com líderes de esquerda no Chile, que a democracia não foi capaz de responder às necessidades atuais e eleições já não são suficientes. Lula se reuniu com os líderes de Chile, Colômbia, Espanha e Uruguai para discutir o avanço do extremismo.
“A democracia liberal não foi capaz de responder aos anseios e necessidades contemporâneas. Cumprir o ritual eleitoral não é mais suficiente. O sistema político e os partidos caíram em descrédito”, disse Lula, ao lado dos presidentes Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Yamandú Orsi (Uruguai) e do premiê espanhol, Pedro Sánchez.
No passado, Lula chegou a afirmar que a Venezuela tinha “mais eleições que o Brasil” e, por isso, o conceito de democracia era “relativo”. Boric, que é um crítico de ditaduras de esquerda da América Latina, disse que a democracia tem de entregar resultados e melhorar a vida das pessoas.
O encontro de Santiago reúne líderes da esquerda iberoamericana críticos ao avanço do extremismo, sobretudo em ambiente digital, mas que agora tem como pano de fundo a ofensiva de Donald Trump.
A cúpula coincide com o embate direto do Brasil com os EUA. Ontem, Lula afirmou que os líderes discutiram o fortalecimento das instituições democráticas e multilaterais frente ao que chamou de “sucessivos ataques que vêm sofrendo”.
“Neste momento em que o extremismo tenta reeditar práticas intervencionistas, precisamos atuar juntos. A defesa da democracia não cabe somente aos governos. Requer participação ativa da academia, dos Parlamentos, da sociedade civil, da mídia e do setor privado”, disse o brasileiro.
BIG TECHS. No encontro, os líderes também discutiram a regulamentação do espaço digital, um tema que opõe Trump à Europa e ao Brasil. “Concordamos com a necessidade da regulamentação das plataformas digitais. Para devolver aos Estados a capacidade de proteger aos seus cidadãos. Liberdade de expressão não se confunde com autorização para incitar a violência, difundir o ódio, cometer crimes e atacar o Estado democrático de direito”, afirmou Lula.
Sánchez, premiê espanhol, listou os três principais temas da reunião: fortalecer as instituições democráticas e multilaterais, combate à desinformação e governança digital democrática. “É uma das tarefas mais importantes dos governos progressistas”, disse.
Choque Premiê espanhol disse que sistema democrático está enfrentando uma ‘internacional reacionária’
O espanhol revelou que uma nova cúpula será realizada ano que vem na Espanha. “Estamos enfrentando uma internacional reacionária, que atua de forma coordenada. Por isso, precisamos também atuar de forma coordenada”, disse Sánchez.