O GLOBO, n 32.344, 25/02/2022. Política, p. 4
Senadores apresentam resistências ao projeto
Julia Lindner
Rodrigo Pacheco, presidente da Casa, evita opinar sobre a proposta, mas diz que vai submetê-Ia a comissões, antes do plenário
Após aprovação apertada na Câmara dos Deputados, por 246 votos a 202, o projeto que legaliza bingos, cassinos e o jogo do bicho deve enfrentar dificuldades para ser aprovado no Senado, na avaliação de integrantes da Casa. Senadores estão reticentes em relação a alguns pontos da proposta, entre eles a tributação estabelecida pelos deputados.
De acordo com o texto chancelado na madrugada de ontem, haverá a cobrança de uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) de 17% sobre o faturamento bruto dos estabelecimentos onde houver jogos. Na visão de parlamentares ouvidos pelo GLOBO, a alíquota é baixa e poderia ser aumentada, algo que foi rejeitado pelos deputados por 255 votos a 166.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem evitado se posicionar sobre o mérito da matéria, mas já indicou a aliados que não terá pressa na tramitação. Anteontem, em conversa com jornalistas, ele sinalizou que pretende encaminhar o texto para algumas comissões da Casa, e não diretamente ao plenário:
— Uma vez chegando ao Senado, vamos fazer uma avaliação sobre quais comissões ele deve passar. Vamos permitir a discussão no âmbito do Senado, assim como o presidente Arthur Lira permitiu na Câmara.
Líder do PSD no Senado, que detém a segunda maior bancada, o senador Nelsinho Trad (MS), disse que a questão merece “um debate amplo e aprofundado”.
O líder do Podemos, Álvaro Dias (PR), que representa a terceira maior bancada, se posiciona contra o projeto e prevê que ele “encontrará forte resistência no Senado”. Dias ressalta que há muita pressão pela aprovação da matéria.
Diferentemente de seus correligionários na Câmara, que votaram majoritariamente pela aprovação do texto, o líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ), tem ressalvas em relação à proposta e acredita que ele precisa ser discutida com esmero:
—Esse é um tema que precisa de mais reflexão. No Senado, pelo perfil mais conservador, é um tema que vai exigir muito debate. Tenho receio que a liberação dos jogos abra uma torneira para a corrupção —justificou.
A bancada evangélica também já se prepara para intensificar a pressão sobre os senadores. Uma das estratégias envolve o presidente da Casa. Integrantes do grupo querem colocar na mesa de negociações, inclusive, uma oferta de apoio ao possível projeto de reeleição de Pacheco ao comando do Senado, caso ele confirme a desistência da pré-candidatura à Presidência da República.
Embora não defenda a matéria publicamente, o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), participou de uma viagem aos Estados Unidos, em 2020, para tratar justamente da liberação dos jogos. Esta semana, o pastor Silas Malafaia, que tem livre acesso ao presidente Jair Bolsonaro, minimizou o incidente. Segundo ele, “Flávio tem juízo” e não vai votar pela legalização dos jogos.