O GLOBO, n 32.344, 25/02/2022. Política, p. 7

Em crise com o presidente, Republicanos filia Mourão

Daniel Gullino, Julia Lindner e Camila Zarur


Dirigente da sigla disse que titular do Planalto 'atrapalha'; vice quer o Senado '

Ao mesmo tempo em que vem se distanciando do presidente Jair Bolsonaro, o Republicanos confirmou ontem que o vice, Hamilton Mourão, vai se filiar ao partido. Uma cerimônia para oficializar a entrada foi marcada para o dia 16 de março, em Brasília. Mourão já anunciou a intenção de ser candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul.

A filiação foi anunciada em nota, assinada pelo presidente nacional do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), e pelo presidente da legenda no Rio Grande do Sul, deputado Carlos Gomes (RS).

“A chegada do general Hamilton Mourão representa uma honra para o Republicanos e reforça o projeto de ampliação da força política do partido nas eleições de outubro”, diz o texto.

Na semana passada, Mourão já havia afirmado que a entrada no partido estava “praticamente” certa. Ele tinha dito que estava em dúvida entre o Republicanos e o PP.

Na quarta-feira, Marcos Pereira afirmou que Bolsonaro “só atrapalha” as negociações em andamento para que o Republicanos atraia novos políticos durante a janela partidária. Em março, será autorizada a troca de partido sem a perda de mandato, como ocorre sempre em período pré-eleitoral.

—(Estamos) trabalhando bem (para a janela partidária), acho que vai ser bom, vamos sair um pouco maior. Sem a ajuda do presidente (Bolsonaro), por enquanto. Porque até agora ele só atrapalhou —reclamou Pereira.

Ele tem defendido que os partidos que integram a base governista precisam “dividir o bolo” de filiações para que as bancadas federais de todos cresçam.

Em meio à crise, o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) afirmou ao GLOBO que não considera haver risco de rompimento total, mas ressalta que há uma “insatisfação grande” porque o governo não dialoga com a legenda. Com isso, ele acredita que a tendência no momento é o Republicanos optar pela neutralidade na disputa à Presidência, como querem muitos de seus correligionários.

— Se tivéssemos que decidir hoje, talvez a decisão seria pela neutralidade, em função da falta de diálogo (com o governo). Talvez a maioria opinaria pela neutralidade. Isso se fosse hoje, mas daqui até as convenções tem um período grande —disse Mecias.

O líder da legenda na Câmara, Vinicius Carvalho (SP), afirmou que a declaração de Marcos Pereira expõe uma “indignação pela falta de reciprocidade no que tange a lealdade que se espera daqueles que estão dentro de um mesmo projeto”.

— Quanto a rompimento ou não (com o governo), acredito que esse assunto apenas será trazido ao conselho político do Republicanos após o mês de abril — afirmou Carvalho.

Para além das eventuais divergências com Bolsonaro, Pereira tem dito que é preciso respeitar as peculiaridades dos diretórios estaduais e dar liberdade para as alianças regionais. Procurado sobre um eventual desembarque do governo, o presidente do Republicanos respondeu que o momento pede “calma” e que é preciso aguardar novos acontecimentos.