Correio Braziliense, n. 22708, 23/05/2025. Política, p. 3
Militar nega ter recebido oferta de golpe
O ex-comandante do Exército Júlio César de Arruda confirmou, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), ontem, que se reuniu com o general de brigada Mário Fernandes e negou que tenham tratado sobre a possibilidade de um golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência.
Arruda, general da reserva, foi ouvido como testemunha do tenentecoronel Mauro Cesar Barbosa Cid, no processo em que o ex -presidente Jair Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado.
No fim de 2022, Arruda foi procurado, dois dias antes de se tornar comandante do Exército, por Mário Fernandes, ex-comandante de Operações Especiais da Força e então número 2 da SecretariaGeral da Presidência, para o pressionar a impedir a posse de Lula.
Arruda teria expulsado, imediatamente, Mário e dois coronéis de seu gabinete e deu uma ordem: que não voltassem mais ali enquanto ele fosse o comandante.
No depoimento, Arruda negou a expulsão.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, questionou: “Foi conversado sobre eventual impedimento para a posse de Lula?”.
Arruda respondeu: “Não, senhor”.
Segundo a investigação da tentativa de golpe, Mário Fernandes é o autor do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que continha um detalhamento para executar, em dezembro de 2022, o ministro Alexandre de Moraes, Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Arruda foi comandante do Exército do presidente Lula por apenas 21 dias. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse que a decisão se deve a uma quebra de confiança com o governo.
Lula ficou irritado com a resistência no Comando do Exército de permitir a prisão no acampamento de bolsonaristas em frente ao Quartel-General em Brasília, na noite do 8 de Janeiro.
No depoimento, Arruda negou ter impedido a entrada de PMs no acampamento. Segundo ele, a função era “acalmar” e fazer uma ação coordenada.
Moraes lembrou o depoimento do ex-chefe da PMDF coronel Fábio Augusto Vieira, que disse ter havido mobilização do Exército naquele dia para impedir a ação da PM. Segundo Vieira, Arruda teria dito, com o dedo em riste: “O senhor sabe que a minha tropa é um pouco maior que a sua, né?”.
Arruda afirmou que havia um clima de nervosismo e disse não se lembrar da fala ao ex-chefe da PM do DF.