O GLOBO, n 32.344, 25/02/2022. Mundo, p. 19

Países europeus se mobilizam para acolher refugiados



Ação russa forçou 100 mil a deixarem suas casas, e milhares cruzaram fronteira, diz ONU; estima-se que 1 milhão de pessoas podem fugir para a UE

A invasão russa forçou cerca de 100 mil ucranianos a deixar suas casas, com milhares deles cruzando a fronteira para países vizinhos, com destino principalmente a Moldávia e Romênia, informou a agência de refugiados da ONU. Estimativas indicam que entre 200 mil e um milhão de pessoas podem fugir para a UE.

Polônia, Hungria, Eslováquia e Romênia, que compartilham fronteiras com a Ucrânia, uma nação de 44 milhões de habitantes, se preparam para receber uma onda de refugiados após o maior ataque de um estado contra outro na Europa desde a Segunda Guerra. A Alemanha também ofereceu ajuda humanitária aos países fronteiriços à Ucrânia.

O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) afirmou que “consequências humanitárias para as populações civis serão devastadoras”. O órgão também está trabalhando com governos de países vizinhos, pedindo que mantenham as fronteiras abertas para aqueles que buscam segurança e proteção, e vem sendo atendido.

Em reação ao ataque, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que mantinha boa relação com Putin, endossou o coro das condenações a Moscou e disse que seu país está pronto para acolher refugiados. enquanto o presidente tcheco, Milos Zeman, outro simpatizante do Kremlin, descreveu o presidente Putin, como “insano”. Seu governo anunciou o fim da emissão de vistos aos russos e ordenou o fechamento de dois consulados do país.

DEMORA NA FRONTEIRA

Após o início da invasão, ucranianos começaram a entrar na Polônia, que pediu as “sanções mais violentas possíveis" contra a Rússia. Reunindo a maior comunidade ucraniana na região, com cerca de 1 milhão de pessoas, a Polônia é o país da UE mais próximo da rota a partir de Kiev.

O governo polonês, que instalou pontos de recepção para refugiados na fronteira, prepara um trem para transportar ucranianos feridos para um dos 1.230 hospitais aparelhados para receber pacientes. Em outra frente, o Exército polonês elevou o nível de prontidão de algumas unidades, enquanto que um porta-voz do governo declarou que as missões diplomáticas na Ucrânia permanecerão abertas “enquanto for possível". O Ministério das Relações Exteriores, porém, pediu a todos os cidadãos poloneses que deixem a Ucrânia.

Grupos de ucranianos também se dirigiram à Hungria, alguns vindos de locais tão distantes quanto Kiev, chegando de carro ou mesmo a pé. O país enviará tropas à fronteira para ajudar a receber os refugiados.

Autoridades alfandegárias eslovacas disseram que carros de passageiros tiveram de esperar até oito horas no mais movimentado dos três cruzamentos rodoviários da Eslováquia com a Ucrânia. O país anunciou o envio de 1.500 soldados para a fronteira em guerra, e o primeiro-ministro Eduard Heger pediu “compreensão e compaixão” com os refugiados. Em Kosice, no Leste da Eslováquia, 2.000 leitos foram preparados. A ferrovia eslovaca interrompeu os serviços para a Ucrânia, e a companhia aérea de baixo custo Wizz suspendeu os voos de e para a Ucrânia.

Dezenas de milhares de ucranianos trabalham na Eslováquia e na Hungria, que tem uma minoria étnica de cerca de 140.000 pessoas vivendo dentro da Ucrânia, perto da fronteira.

MOBILIZAÇÃO

A República Tcheca, que não faz fronteira com o país invadido, mas abriga 260 mil ucranianos, também se prontificou a ajudar. A Czech Railways ofereceu vagões com 6.000 assentos e camas para ajudar na retirada. O governo tcheco fechou sua embaixada em Kiev, mas seu consulado em Lviv, no Oeste da Ucrânia, permanece aberto.

Outro país que se mobiliza para acolher refugiados é a Romênia, conforme afirmou o presidente Klaus Iohannis. Ele também pediu a “consolidação consistente” do flanco Leste da Otna.

O presidente búlgaro, Rumen Radev, disse que seu país se prepara para retirar por terra mais de 4.000 búlgaros étnicos da Ucrânia e também engrossou o coro das nações que se dizem prontas para abrigar a população em fuga da zona conflagrada.