Correio Braziliense, n. 22709, 24/05/2025. Economia, p. 7
Galípolo diz que é contra
O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse, ontem, ter recebido com surpresa as alterações no Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), anunciadas no dia anterior, por secretários do ministério da Fazenda. Segundo o chefe da autoridade monetária, o tema não foi mencionado durante a última reunião que teve com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e outros secretários da pasta, no início desta semana.
Ao participar da abertura de um evento da Fundação Getulio Vargas (FGV), Galípolo narrou que, na ocasião, Haddad aproveitou o encontro, do qual também participaram secretários, para adiantar o valor de R$ 31 bilhões que seria contingenciado e bloqueado no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do primeiro bimestre, divulgado na quinta-feira. Segundo o relato de Galípolo, o ministro da Fazenda teria dito apenas que as medidas vinham no sentido de harmonizar as políticas fiscal e monetária.
“De maneira bastante trivial, ele (Haddad) mencionou que o relatório bimestral teria o bloqueio e contingência do valor que teria e que as medidas, provavelmente, de arrecadação, viriam no sentido de estar na mesma direção da política monetária, de contribuir com a política monetária”, disse o presidente do BC.
Galípolo, que também atuou como secretário-executivo do Ministério da Fazenda, antes de ir para o Banco Central, esclareceu que nunca foi favorável em utilizar o IOF para perseguir a meta fiscal. “Em debates anteriores, em qualquer momento que se discutia o IOF como alternativa para a persecução da meta, eu, pessoalmente, nunca tive muita simpatia sobre a ideia”, acrescentou.
Na entrevista coletiva para anunciar as medidas, na quinta-feira, o secretário executivo da Fazenda, Dario Durigan, havia confirmado que Galípolo e Haddad conversaram sobre as mudanças no IOF, o que foi negado, pouco depois, nas redes sociais, pelo chefe da Fazenda.
Elogios
Apesar do constrangimento, o presidente do BC considerou que o objetivo principal da equipe econômica com o anúncio das medidas é a perseguição da meta e elogiou o que ele chamou de “agilidade e tempestividade” do Ministério da Fazenda em voltar atrás no item que aborda sobre as remessas ao exterior. Essas operações teriam o imposto elevado para 3,5%, mas, com o decreto publicado na noite de quinta-feira, devem permanecer com alíquota de 1,1%.
“Acho que isso ficou bastante evidente, e também a disposição, atitude democrática, agilidade e tempestividade do Ministério da Fazenda de ouvir a sociedade e atuar de maneira muito rápida a dirimir qualquer tipo de problema que possa existir”, disse, ainda, Galípolo. (RP)