O GLOBO, n 32.344, 25/02/2022. Economia, p. 15
Invasão da Ucrânia faz dólar voltar aos R$ 5,10
Seguindo o mercado global, a moeda americana tem valorização de 2%. Bolsa brasileira recua apenas 0,37%, com recuperação dos índices americanos. Barril do petróleo chega a passar de US$ 100, mas alta perde força
O dólar comercial fechou ontem em forte alta, voltando a ficar acima de R$ 5,10, enquanto a Bolsa caiu, com maior aversão a risco depois de a Rússia invadir a Ucrânia, na madrugada.
A moeda americana avançou 2,02%, a R$ 5,1047, a maior valorização desde 8 de setembro de 2021, quando a divisa subiu 2,92%, a R$ 5,3276.
Diante do conflito, os investidores buscam a proteção de ativos mais seguros. O dólar se fortaleceu globalmente, e cresceu a procura pelos Treasuries, os títulos do Tesouro americano.
O Dollar Index Spot, da Bloomberg, que mede a valorização da divisa frente a uma cesta de moedas, avançou 0,98%.
O Ibovespa cedeu 0,37%, aos 11.592 pontos. Após cair quase 3%, o principal índice da B3 recuperou parte das perdas com a melhora dos mercados americanos no fim do dia — o índice Dow Jones fechou em alta de 0,38%, e o S&P 500, de 1,50%.
MOSCOU DESABA 33%
Como a invasão ocorreu nas primeiras horas de quinta-feira, os mercados europeus foram os mais afetados. O índice Moex, o principal da Bolsa de Moscou, desabou 33,28%. Segundo o site The Street, o Moex perdeu US$ 150 bilhões em valor de mercado. O índice RTS, por sua vez, despencou 38,30%.
Na Bolsa de Varsóvia, na Polônia, o tombo foi de 10,87%; na Bolsa de Budapest, na Hungria, de 9,76%. O mercado acionário da Ucrânia não funcionou.
Na França, o CAC-40 teve queda de 3,83%, enquanto o FTSE 100, em Londres, perdeu 3,88%. O DAX, de Frankfurt, caiu 3,96%.
—Se você não tem certeza de como a economia global vai fluir normalmente, você começa a produzir internamente, e o comércio mundial trava. Isso provoca perda de influência e faz os preços subirem, o que só torna o trabalho dos bancos centrais mais difíceis — afirmou o diretor de estratégia da Inversa, Rodrigo Natali.
Os investidores, agora, monitoram o anúncio de novas sanções por parte dos países ocidentais e seus impactos para a economia global.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou sanções contra um terço dos bancos russos. Mas, ao contrário do que havia ameaçado, não excluiu a Rússia do sistema Swift, que processa pagamentos entre bancos de todo o mundo.
Biden também disse que os EUA liberariam mais petróleo de suas reservas estratégicas. A Rússia é um grande produtor de petróleo e gás natural.
Pela manhã, os preços do petróleo dispararam. O barril do tipo Brent, referência internacional, ultrapassou a marca dos US$ 100 pela primeira vez desde 2014. O contrato para abril chegou a saltar 8,78%, a US$ 105,34, mas encerrou a US$ 99,08, com alta de 2,27%.
Já o barril do WTI, também para abril, após disparar 8,66%, a US$ 100,10, encerrou com valorização de 0,77%, a US$ 92,81, segundo a Reuters.
Esse movimento do petróleo, após a fala de Biden, acalmou, em parte, os receios de uma piora na inflação global, contribuindo para a melhora dos mercados americanos. Essa tendência, porém, pode não se manter.
— Se a guerra começar a se estender, o nível das commodities vai se manter alto, e isso impacta a inflação. Ainda é cedo para ter clareza — disse o estrategista chefe da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua sobre a postura futura dos bancos centrais, especialmente de EUA e Europa.
JUROS FUTUROS SOBEM
As taxas de juros futuros seguiram o movimento de cautela. A taxa do contrato futuro de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu de 12,37% para 12,45%, e a do DI para janeiro de 2024 passou de 11,84% para 11,97%. Já a taxa a do DI janeiro de 2025 subiu de 11,27% para 11,39%.
As ações da Petrobras, que haviam aberto em alta depois do lucro recorde divulgado na quarta-feira, viraram. As ordinárias (ON, com direito a voto) caíram 1,57%, a R$ 35,71, e as preferenciais (PN, sem voto), 2,43%, a R$ 33,39.
Para Bevilacqua, da Levante, pesou o temor dos investidores de possíveis interferências na estatal, em um contexto de petróleo e dólar altos:
— Vai ter ruído de novo com intervenção nos preços dos combustíveis, e isso acaba ofuscando o resultado.
A cotação do bitcoin chegou a desabar 8% pela manhã, ficando abaixo de US$ 38 mil, mas por volta das 22h a criptomoeda já era negociada a US$ 38.300, em alta de 3,9%.