Correio Braziliense, n. 22710, 25/05/2025. Política, p. 3

Lula quer controle das redes

Victor Correia

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem que é preciso regulamentar as redes sociais, dias após o tema voltar à atenção pública por conta de uma fala da primeira-dama Janja da Silva sobre o TikTok, na China.

O chefe do Executivo participou do lançamento de um programa para recuperação do solo em propriedades da agricultura familiar, no Mato Grosso, mas aproveitou seu discurso para criticar opositores, rebater a divulgação de notícias falsas nas redes e também criticar o preço do gás — prometendo gratuidade para as famílias de menor renda nos próximos meses.

“É preciso que a gente discuta, no Congresso Nacional, a responsabilidade de a gente regular o uso das empresas nesse país. Não é possível que tudo tenha controle, menos as empresas de aplicativos”, enfatizou o presidente. Ele argumentou que o bullying praticado contra jovens nas redes pode causar sérios prejuízos psicológicos e recordou que o governo decidiu proibir o uso de celulares nas escolas.

Além disso, afirmou que a discussão política nas redes é baseada na divulgação de mentiras e disse que fará viagens a partir do próximo mês para tentar combater as notícias falsas sobre o governo.

“No mês que vem, eu vou começar a andar neste país, porque acho que chegou a hora de a gente assumir a responsabilidade de não permitir que a mentira, que a canalhice, que a fake news ganhe espaço e que a verdade seja soterrada”, discursou o petista. Para ele, a disputa política passou a incluir “gente maldosa e agressiva”, que não respeita os adversários.

TikTok

O tema da regulamentação das redes voltou à pauta após repercussão da fala da primeira-dama Janja da Silva durante jantar oferecido pelo presidente da China, Xi Jinping, em Pequim. No encontro, Lula pediu a Xi o envio de um representante de confiança para discutir a regulamentação do TikTok no Brasil. Em seguida, Janja pediu a palavra e citou que a rede favorece a extrema-direita no Brasil, e que também envolve riscos para crianças e adolescentes, especialmente.

Ministros do governo se reuniram nesta semana para discutir uma nova proposta de regulamentação das redes. A conversa ocorreu no Palácio do Planalto, na quinta-feira, e foi mediada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa. O texto será uma alternativa ao PL das Fake News, que foi colocado na pauta do Congresso em 2023, mas engavetado após resistência das plataformas.

Preço do gás

O chefe do Executivo também disparou contra o preço do gás, argumentando que o produto é vendido ao consumidor a um preço muito acima do praticado pela Petrobras. “O botijão de gás é vendido pela Petrobras para as empresas a R$ 37. Não tem explicação ele chegar para o povo a R$ 120, R$ 130, R$ 140. Alguém está ganhando muito dinheiro”, afirmou Lula. Ele voltou a mencionar o Programa Gás para Todos, que está sendo formulado pelo governo federal. “Nós vamos fazer com que o gás chegue barato. As pessoas que estão no CadÚnico não vão precisar nem pagar. Tem aproximadamente 22 milhões de famílias que vão ser beneficiadas, porque as pessoas precisam. Tudo isso vai ser anunciado neste mês”, contou o presidente.

Solo Vivo

 O evento de ontem ocorreu em Campo Verde, Mato Grosso, especialmente para anunciar um investimento de R$ 43 milhões do Programa Solo Vivo para a recuperação do solo em propriedades da agricultura familiar no estado. Lula entregou, ainda, máquinas agrícolas e retroescavadeiras, 78 títulos de domínio para assentamentos e investimento de R$ 5 bilhões do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para pavimentar a rodovia BR-163.

“O gesto que foi feito hoje (ontem) aqui entregando essas máquinas para poder melhorar a capacidade produtiva de vocês e melhorar a qualidade da terra.

O que essas máquinas vão provar é que não é que o pequeno agricultor é incompetente e o grande produtor é competente. É preciso acabar com essa falácia. O que o pequeno produtor não tem é as mesmas condições de comprar os equipamentos que tem o grande”, explicou Lula. Também participaram do evento os ministros Carlos Fávaro (Agricultura); Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), além do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes; e do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.