O GLOBO, n 32.344, 25/02/2022. Mundo, p. 18
ENDURECIMENTO DAS SANÇÕES
EUA E UE ANUNCIAM MEDIDAS QUE MIRAM BANCOS E TRANSAÇÕES
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que o presidente Vladimir Putin atacou os “princípios da paz e liberdade mundiais” ao invadir a Ucrânia e agora arcará com as consequências. Em discurso na Casa Branca, Biden prometeu atingir duramente a economia russa com sanções contra um terço dos bancos do país, mas voltou a descartar o engajamento militar no conflito.
— Temos um trilhão de bens congelados, um terço dos bancos russos serão cortados do sistema financeiro —afirmou o americano, que descartou, por ora, impor sanções diretamente contra o presidente russo. — Sempre expusemos os planos e falsos pretextos da Rússia. Putin é o agressor, Putin escolheu essa guerra, e agora ele e seu país sofrerão as consequências.
Biden afirmou que, com o ataque, Putin mostrou seu desejo de restabelecer a União Soviética, mas destacou que suas ações irão enfraquecê-lo.
— A ação de Putin mostra uma visão sinistra de um mundo onde países tomam outros pela guerra. Mas a Otan e seus aliados sairão mais unidos e determinados que nunca. Putin se tornará um pária no palco internacional — afirmou, negando a possibilidade de conversar com o russo por telefone, a quem chamou de “tirano”.
Ele também anunciou o envio de soldados dos EUA para reforçar a presença na Alemanha e na Polônia, que, segundo uma fonte do Pentágono, seria um contingente extra de sete mil militares, com o objetivo de “proteger os aliados” da Otan. Biden reiterou, no entanto, que forças americanas não serão despachadas à Ucrânia, que não faz parte da aliança militar.
— Nossas forças não estão, e não estarão, engajadas no conflito com a Rússia na Ucrânia —disse o presidente americano. — Nossas forças não estão indo à Europa para lutar na Ucrânia, mas para defender nossos aliados da Otan e reassegurar nossos aliados no Leste. Vamos defender cada milímetro dos territórios da Otan. Vamos aumentar a capacidade da Otan para defesa coletiva.
Biden falou após uma reunião virtual a portas fechadas com o G7, composto também por Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido.
Ontem, o premier britânico, Boris Johnson, anunciou o congelamento de ativos de bancos russos e a proibição de voos da Aeroflot no espaço aéreo britânico. Na terça-feira, o país, assim como os EUA , a União Europeia, e outros aliados, anunciaram uma primeira leva de sanções. As medidas americanas foram direcionadas contra dois bancos e oligarcas russos, com o objetivo de cortar o acesso do país ao financiamento de sua dívida.
TECNOLOGIA É ALVO
Agora, Biden anunciou a proibição de exportações de tecnologia, a limitação de transações do governo russo em moedas estrangeiras e o bloqueio dos ativos dos quatro grandes bancos russos, que somam US$ 1 trilhão. Assim, os bancos não vão poder fazer negócios com empresas americanas e terão seu patrimônio nos EUA congelado.
— Vamos limitar a capacidade da Rússia de fazer negócios envolvendo dólares, euros, libras e ienes — disse Biden, que prometeu aumentar a lista de oligarcas russos punidos e ampliar as sanções a empresas, paralisando exportações de equipamentos de alta tecnologia, “reduzindo o acesso da capacidade industrial e tecnológica russa por anos".
O presidente, no entanto, descartou cortar Moscou da rede bancária internacional SWIFT. A medida, que desconectaria a Rússia do comércio básico, potencialmente teria repercussões consideráveis em todo sistema financeiro mundial.
Os líderes da União Europeia também adotaram novas sanções duras contra a
Rússia, atingindo sua economia e suas elites. A UE agora congelará os ativos russos no bloco, interrompendo o acesso dos bancos aos mercados financeiros europeus como parte do que seu chefe de política externa, Josep Borrell, descreveu como “o pacote de sanções mais severo que já implementamos”. Também visará o comércio, energia e transporte da Rússia e imporá controles de exportação.
— Nossas sanções vão atingir o coração da economia russa —prometeu o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo.
Há diferenças dentro do bloco sobre até onde ir com as punições, já que alguns podem sofrer efeitos colaterais com as medidas.
Os EUA também impuseram sanções a 24 pessoas e organizações bielorrussas porque o país “facilitou a invasão”. O foco se concentra no setor da defesa e nas instituições financeiras da Bielorrússia, duas áreas que “têm vínculos especialmente estreitos com a Rússia".
Além dos desafios externos, a invasão russa da Ucrânia representa também problemas internos para Biden, que se comprometeu, no discurso de ontem, a liberar petróleo da reserva estratégica caso seja necessário para proteger os consumidores do impacto do aumento dos preços nas bombas de gasolina. O barril do petróleo superou ontem a barreira dos US$ 100 dólares, algo que não ocorria desde 2014.
— Pedimos às companhias de gás e petróleo que não aproveitem esse momento para subir preços. Estamos trabalhando ativamente para evitar que isso aconteça —afirmou o presidente americano.