O GLOBO, n 32.347, 28/02/2022.  Mundo, p. 17

Bolsonaro: Brasil manterá neutralidade no conflito



O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que o Brasil “não vai tomar partido” e deve manter uma posição neutra após a Rússia invadir a Ucrânia, e afirmou esperar que a Otan “não potencialize o problema ”. A declaração, a primeira do presidente sobre o tema desde o início da guerra na quinta-feira, ocorreu no mesmo dia em que, em Nova York, o embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa Filho, alertava que sanções econômicas de Europa e EUA e mais o envio de armas para a Ucrânia podem piorar a situação.

O presidente disse que teme impactos no preço da gasolina e dos fertilizantes, caso a guerra se prolongue. Em coletiva no Guarujá, no litoral paulista, onde passa o carnaval, Bolsonaro fez referência a uma conversa que teve “há pouco” com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Em nota posterior, o Itamaraty informou que Bolsonaro se referia “às duas horas de conversa ao vivo na visita a Moscou”, ocorrida duas semanas atrás.

— Tratamos de muita coisa, a questão dos fertilizantes foi das mais importantes. Obviamente, ele falou alguma coisa sobre a Ucrânia, eu me reservo aí como segredo de não entrar em detalhes — disse Bolsonaro. —Não vamos tomar partido, vamos continuar pela neutralidade e ajudar, na medida do possível, a busca da solução.

Questionado se manteria a posição neutra mesmo se houvesse ataque a civis ucranianos em larga escala, Bolsonaro afirmou não acreditar que isso vá acontecer.

— Não acho que esse conflito vá se prolongar, até pela diferença bélica de um país pra outro. A gente espera obviamente que outros países da Otan não ajudem a potencializar esse problema, que no meu entender está para ser resolvido —afirmou.

Na ONU, na reunião que determinou a convocação extraordinária da Assembleia Geral para hoje, o embaixador Ronaldo Costa Filho reafirmou o voto do Brasil condenando a Rússia pela invasão da Ucrânia, mas fez alerta: “O fornecimento de armas, o recurso a ciberataques e a aplicação de sanções seletivas, que podem afetar setores como fertilizantes e trigo, com forte risco de aumentar a fome, acarretam o risco de agravar e espalhar o conflito e não de resolvê-lo. Não podemos ignorar o fato de que essas medidas aumentam os riscos de um confronto mais amplo e direto entre a Otan e a Rússia”, afirmou ele.

“É nosso dever, tanto no Conselho quanto na Assembleia Geral, parar e reverter essa escalada. Precisamos nos engajar em negociações sérias, de boa fé, que possam permitir a restauração da integridade territorial da Ucrânia, garantias de segurança para a Ucrânia e a Rússia e estabilidade estratégica na Europa”, destacou o representante brasileiro.