Correio Braziliense, n. 22712, 27/05/2025. Política, p. 4
Testemunhas nada ouviram sobre quartelada
O Supremo Tribunal Federal (STF) ouviu, ontem, as testemunhas de defesa do general da reserva Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo de Jair Bolsonaro. Os depoimentos mencionaram o afastamento entre eles, no final do governo, e os bastidores da transição presidencial depois da derrota nas urnas, em 2022, marcada pelo clima de desânimo no Palácio do Planalto.
O coronel da reserva do Exército Amilton Coutinho Ramos, ex -assessor de Heleno no GSI, foi um dos primeiros a depor. Segundo ele, o Gabinete de Segurança sempre atuou de maneira técnica e apartidária, mesmo nos momentos mais tensos do governo. No entanto, reconheceu o papel político que Heleno desempenhava no órgão.
“Pelo tempo que tenho no GSI, há 12 anos, ele é apolítico e apartidário. Nunca vi o GSI participando de ministerial ou fazendo parte de cota na composição da Esplanada. Em palestra no GSI, Heleno deixou isso bem claro. Ele disse que, por vezes, poderia desempenhar o papel político por estar próximo à Presidência, mas os servidores deveriam seguir o trabalho institucional”, afirmou.
Questionado sobre eventual distanciamento entre o general e Bolsonaro ao longo do mandato, Amilton confirmou que as reuniões entre os dois diminuíram a partir da filiação do presidente ao PL, em 2021. “Aconteceu porque o general, em uma convenção antes de o presidente assumir, havia demonstrado reservas com relação à corrente majoritária no Congresso”, explicou. Segundo ele, o afastamento foi entendido por ambos como uma necessidade estratégica de Bolsonaro, às vésperas das eleições presidenciais, para ampliar o apoio à sua candidatura.
Já o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou que jamais teve conhecimento de qualquer plano golpista no governo Bolsonaro. Depois da derrota nas urnas, disse ter se reunido com o presidente, no Palácio do Planalto, e o encontrou “muito triste, profundamente abatido, não parecia o mesmo”.
Questionado se houve alguma orientação do governo para impedir a transição, o ex-ministro negou. Queiroga confirmou a presença na reunião ministerial de 5 de julho de 2022. Para o ex-ministro, não houve exortação ao golpe.
Por sua vez, o ex-coordenador de Relações Institucionais da Agência Brasileira de Inteligência, Christian Perillier Schneider, destacou a relação estreita entre Bolsonaro e o então diretor da Abin, o hoje federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). “(Ramagem) tinha relação direta com o presidente, não precisava passar pelo ministro”, o que reforça a tese da acusação de que o ex-diretor da Abin — também réu no inquérito que investiga a tentativa de golpe —, atuava alinhado ao núcleo duro do ex-presidente. (MM)