O GLOBO, n 32.347, 28/02/2022. Mundo, p. 18
BATALHA PELA SEGUNDA CIDADE
RUSSOS ENTRAM EM KHARKIV, MAS UCRANIANOS DIZEM MANTER CONTROLE
Após quatro dias de ataques, tropas russas entraram ontem na cidade ucraniana de Kharkiv, a segunda maior do país e que fica a apenas 65 quilômetros da fronteira da Rússia. Horas depois, o prefeito OlehSynyehubov afirmou que a cidade voltou a ser controlada por soldados ucranianos. Ele havia alertado que a parte central de Kharkiv estava sem energia elétrica e pediu que os moradores permaneçam em abrigos. A Rússia, por sua vez, informou que capturou 471 soldados ucranianos em Kharkiv.
— Os veículos [de combate] leves do inimigo russo invadiram Kharkiv, incluindo o centro da cidade, mas as Forças Armadas da Ucrânia estão destruindo o inimigo. Pedimos aos civis que não saiam —afirmou Synyehubov.
Imagens publicadas nas redes sociais e verificadas pela BBC mostram um grupo de soldados ucranianos escondidos atrás de uma parede, enquanto um lança um míssil antitanque. No vídeo também é possível ouvir o barulho de rajadas de metralhadora. Em outra rua, restos de um blindado militar russo ardiam em chamas, ao lado de vários veículos abandonados.
RESIDÊNCIAS ATINGIDAS
Os combates começaram na manhã de ontem, com confrontos em diferentes pontos da cidade, de 1,4 milhão de habitantes e localizada cerca de 400 quilômetros a leste da capital, Kiev. Um prédio de nove andares com residências civis foi atingido por um míssil russo e deixou uma mulher morta. Vinte pessoas precisaram ser retiradas às pressas. Outros 60 moradores haviam se refugiado em um abrigo subterrâneo e não foram feridos.
Enquanto isso, o Exército russo anunciou ter cercado duas grandes cidades no Sul, Kherson e Berdyansk. Em comunicado, o Ministério da Defesa também reivindicou a tomada da cidade de Genichesk, às margens do Mar de Azov, e de um aeródromo perto de Kherson.
Além dos ataques em Kharkiv, os russos atingiram usinas de fornecimento de energia próximas a Kiev. Também há registro de ataques à cidade de Bucha, que fica a cerca de 30 quilômetros da capital, e onde um prédio residencial foi atingido.
ZELENSKY DENÚNCIA
Mais cedo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que a Rússia tem bombardeado áreas residenciais em várias cidades como Vasylkiv, Kiev, Chernigiv, Sumy e Kharkiv. Segundo ele, as tropas russas estão “matando civis" de propósito e atacando cidades que nunca tiveram “nenhum tipo de estrutura militar”.
— Eles mentiram sobre o fato de que não atacariam civis. Desde as primeiras horas da invasão das tropas russas, eles estão atacando as infraestruturas civis. Deliberadamente escolheram táticas para atingir pessoas e tudo aquilo que torna a vida normal: eletricidade, hospitais, jardins de infâncias, casas, entre outros. Isso poderia ter sido pior se não fossem nossas forças militares —disse Zelensky.
O presidente afirmou ainda que “os ataques da Rússia contra a população civil e às infraestruturas têm características de um genocídio e merecem um tribunal internacional”. Desde que os ataques foram iniciados, o mandatário alertou que Kiev irá denunciar às autoridades de Moscou no Tribunal Penal Internacional, em Haia.
COMBOIO PERTO DE KIEV
De acordo com a BBC, uma das áreas residenciais bombardeadas é o subúrbio de Troyeshchy na, em Kiev. Um conselheiro do ministro do Interior da Ucrânia classificou a ação como “um ataque sem sentido e impiedoso na área residencial de Kiev”. Vídeos e imagens postados nas redes sociais mostram fumaça saindo do pátio de um prédio residencial, cercado por carros destruídos, em Troyeshchyna.
De acordo com o serviço de imagens por satélite Maxar, há um grande comboio militar russo a cerca de 40 km da capital ucraniana, com aproximadamente cinco quilômetros de extensão e composto por veículos militares e de transporte de combustíveis. Não foi possível verificar, de forma independente, a veracidade das imagens.
De acordo com a ONU, pelo menos 64 civis foram mortos e 240 ficaram feridos desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, no dia 24. A Ucrânia fala em 198 civis mortos, incluindo três crianças.