O GLOBO, n 32.347, 28/02/2022. Mundo, p. 18
Zelensky concorda em negociar na Bielorrússia, mas se diz cético
Ucraniano rejeitara inicialmente reunião no país vizinho, onde delegação russa está
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, concordou em enviar uma delegação para negociar com Moscou “sem pré-condições” em uma reunião prevista para acontecer hoje na fronteira com a Bielorrússia. Zelensky —que acusa o governo bielorrusso de permitir que seu território seja usado como plataforma para a invasão da Ucrânia pela Rússia — tinha inicialmente rejeitado enviar representantes para se encontrar com uma missão russa que já está no país vizinho, mas mudou de posição, embora tenha dito que não espera muito da reunião.
—Vou dizer com franqueza, como sempre: não acredito muito no resultado desta reunião, mas deixe-os tentar. Para que nenhum cidadão da Ucrânia tenha dúvidas de que eu, como presidente, não tentei parar a guerra quando havia uma pequena chance —disse.
Segundo um comunicado divulgado por Zelensky no Telegram, os dois lados se encontrarão perto do Rio Pripyat, em um encontro “sem pré-condições”. Anteriormente, o Kremlin havia dito que só negociaria quando o governo ucraniano concordasse em adotar um estado de “neutralidade”, desistindo da pretensão de entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A delegação negociadora de Moscou chegou ontem a Gomel, cidade do Sudeste da Bielorrússia, também perto da fronteira.
Antes, em um um vídeo transmitido em suas redes sociais, Zelensky pedira que as negociações acontecessem em um território neutro.
— Varsóvia, Bratislava, Budapeste, Istambul, Baku. Propomos qualquer uma dessas —disse o presidente. —E qualquer outra cidade em um país de onde não nos lancem mísseis está bom para nós.
Zelensky também havia pedido que o premier israelense, Naftali Benett, mediasse as negociações, aproveitando a boa relação de Israel com os dois países. Mas enquanto o líder ucraniano queria que o diálogo acontecesse em Jerusalém, Putin insiste em que ele seja na Bielorrússia.
Lukashenko, um dos mais fiéis aliados de Putin na região, acusa o líder ucraniano de “estar mentindo” sobre o apoio bielorrusso a Moscou na invasão.
— Não há um soldado sequer da Bielorrússia lá, não há um projétil nosso na Ucrânia —disse.
Mais cedo, em um discurso transmitido pela TV, Putin agradeceu às forças na Ucrânia por seu trabalho.
— Minha especial gratidão àqueles que, nestes dias, estão cumprindo heroicamente seu dever militar no desenvolvimento de uma operação especial para oferecer assistência à população das repúblicas de Donbass —disse, referindo-se às duas regiões separatistas pró-Rússia, cuja independência o Kremlin reconheceu na semana passada.
Denunciando sem provas um “genocídio” nessas áreas no Leste da Ucrânia, Putin ordenou há cinco dias o ataque ao país vizinho.
ASSEMBLEIA GERAL
Ontem, o Conselho de Segurança convocou para hoje uma sessão extraordinária da Assembleia Geral da ONU, que deve aprovar um texto condenando a invasão russa da Crimeia. Na Assembleia Geral, os países com assento permanente no Conselho de Segurança não têm poder de veto, mas resoluções sobre a paz e a segurança internacionais não têm aplicação mandatória.
Ao todo, foram 11 votos a favor da convocação da Assembleia, incluindo do Brasil, que ocupa um assento rotativo no órgão, três abstenções — China, Índia e Emirados Árabes Unidos —e um voto contra, da Rússia. O resultado foi idêntico ao da votação da resolução, na sexta-feira, condenando o ataque à Ucrânia, e que acabou vetada pela Rússia.
A expectativa é de que o texto a ser elaborado seja submetido ao plenário da Assembleia, isto é, aos 193 países da ONU, na quarta-feira, e os EUA apostam que a resolução receba o apoio de mais de 100 países. Tal número superaria a votação do texto que, em março de 2014, condenou a anexação russa da Península Crimeia. Apesar de não ter efeito prático, a decisão na Assembleia será um sinal do apoio ou da rejeição às políticas russas na Ucrânia.