O GLOBO, n 32.348, 01/03/2022. Mundo, p. 15

Ataques à segunda maior Cidade atingem áreas civis



ONGs denunciam O uso por mssos de bombas de fragmentação, proibidas em tratado internacional que Rússia, EUA e Brasil não assinaram

No quinto dia da invasão russa à Ucrânia, as forças comandadas pelo presidente Vladimir Putin intensificaram ontem seus ataques contra Kharkiv, segundam aior cidade do país, e nos arredores da cidade portuária de Mariupol, estratégica na região do Mar de Azov, contíguo ao Mar Negro. De acordo com serviços de monitoramento por satélite, um comboio de 64 quilômetros de tanques e carros de combate russos se aproxima de Kiev, e surgem denúncias do uso de bombas de fragmentação, proibidas por um tratado internacional.

Em declarações feitas no começo da noite de ontem, o presidente Volodymyr Zelensky afirmou que, em cinco dias, a Ucrânia foi atingida por 53 ataques com foguetes e por 113 mísseis de cruzeiro. Ele defendeu que seja instaurada uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, uma possibilidade ainda fora de questão dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar liderada pelos Estados Unidos.

—Precisamos considerar o fechamento completo dos céus para mísseis, aviões e helicópteros russos — disse.

Em Kharkiv, cidade de 1,4 milhão de habitantes que tem uma considerável presença de ucranianos de origem russa, os ataques ocorreram também contra áreas civis, usando mísseis balísticos e teleguiados, e, segundo o governo ucraniano, deixaram “dezenas de mortos”. Vídeos publicados em redes sociais mostram prédios de apartamentos e veículos particulares destruídos, além de corpos espalhados pelas ruas—não foi possível confirmar a veracidade das imagens.

No final de semana, a cidade chegou a ser invadida pelas forças russas, que acabaram repelidas pelos militares ucranianos. Contudo, os bombardeios continuam — Kharkiv fica a 65 quilômetros da divisa com a Rússia.

PORTOS FECHADOS

Os combates também se intensificaram nos arredores de Mariupol, importante cidade portuária na costa do Mar de Azov: em meio a bombardeios, forças russas tentam assumir posições que permitam o cerco da área urbana, mas representantes do governo ucraniano afirmam que, apesar dos combates, não houve mudanças significativas no controle das áreas em disputa.

Segundo o chefe da Administração Marítima da Ucrânia, Vitaliy Kindrativ, todos os portos do país permanecerão fechados até que a invasão russa chegue ao fim. Em entrevista à Reuters, ele reconheceu que o porto de Mariupol sofreu danos consideráveis provocados pela artilharia russa. Outros terminais também sofreram danos. Companhias de transporte marítimo vêm evitando a região do Mar Negro, e toda navegação no Mar de Azov foi suspensa no dia 24 de fevereiro. Hoje, há cerca de 100 embarcações estrangeiras “bloqueadas em portos ucranianos pela Marinha russa”, disse Kindrativ.

DENÚNCIAS DE ONGS

Em meio aos combates, a Human Rights Watch e a Anistia Internacional acusaram a Rússia de usar bombas de fragmentação em alguns de seus ataques — esse tipo de armamento é proibido pela Convenção sobre Bombas de Fragmentação, de 2008, que teve a adesão de mais de 100 países, uma lista que não inclui Rússia, EUA e Brasil.

Essas bombas liberam uma série de explosivos menores, com o objetivo de causar o maior dano em uma área mais ampla. Além do impacto inicial do ataque, há o risco de alguns dos explosivos menores detonarem posteriormente. A Anistia aponta para um ataque que atingiu uma creche na região de Sumy, que faz fronteira com a Rússia, no dia 25 de fevereiro, deixando três mortos. No outro ataque, denunciado pela Human Rights Watch, armas de fragmentação teriam sido usadas perto de um hospital na região separatista de Donetsk, mas em uma área controlada pelo governo, no dia 24 de fevereiro, deixando quatro mortos e dez feridos.