Correio Braziliense, n. 22713, 28/05/2025. Política, p. 4
Ex-diretor confirma blitzes, mas nega objetivo político
Maiara Marinho
O Supremo Tribunal Federal (STF) ouviu, ontem, testemunhas do ex-ministro da Justiça Anderson Torres no processo que apura a tentativa de golpe de Estado. Os depoimentos mencionaram falhas de comunicação entre órgãos de inteligência e segurança na primeira semana de janeiro de 2023, além da atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições presidenciais de 2022.
O ex-diretor de Operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Djairlon Henrique Moura confirmou que a corporação realizou uma operação de monitoramento de ônibus que saíam principalmente do Sudeste e do Centro -Oeste com destino ao Nordeste durante o período eleitoral de 2022. No entanto, ele negou que a ação tenha tido como objetivo interferir no segundo turno das eleições presidenciais.
Segundo o ex-diretor, a operação foi solicitada pela Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do Ministério da Justiça e teve duração de sete dias. “Houve a operação a pedido da Seopi de monitoramento dos ônibus saindo do Centro-Oeste e do Sudeste em direção ao Nordeste, com suspeita de ter transporte irregular de eleitores e dinheiro. A operação foi realizada durante sete dias, e não verificamos a suspeita, mas ela se encerrou antes das eleições”, afirmou Moura.
A atuação da PRF no segundo turno das eleições de 2022, especialmente no Nordeste, foi alvo de críticas e de uma determinação do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, para que fossem suspensas operações que pudessem dificultar o acesso dos eleitores às urnas. Na ocasião, a Justiça Eleitoral apontou que as blitze atrasaram o deslocamento de eleitores.
O ex-diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal Caio Rodrigo Pelim afirmou desconhecer ordens de Torres para policiamento direcionado e que, na reunião em que participou, recebeu a orientação de “usar o máximo de efetivo possível, não abaixar a guarda para o segundo turno e manter o policiamento ostensivo”.
As oitivas devem continuar até 2 de junho. Nos últimos dias de audiência, a Corte tomará depoimento de outras 22 testemunhas de Torres, além de 10 testemunhas indicadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ).