VALOR ECONÔMICO, n 5420, 19/01/2022, Brasil, A2 
Endividamento chega a 70% das famílias em 2021 
Alessandra Saraiva 
 

Uma em cada sete famílias brasileiras contraiu algum tipo de dívida com o sistema financeiro em 2021, aponta a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). 

Com os novos endividados, a parcela de famílias que se declararam endividadas foi de 70,9% em 2021, ante 66,5% em 2020, maior patamar anual desde a começo da série, em 2010. Em números absolutos, o contingente de endividados atingiu 12,4 milhões de famílias, também volume recorde. 

A pesquisa é um sinal de alerta para este ano, que conta com cenário mais desafiador diante de juros e inflação altos, mas renda em baixa, alerta Izis Ferreira, economista da CNC. 

Uma série de fatores levou ao recorde de endividados em 2021, explica a economista. Entre os mais pobres, houve necessidade de recorrer ao crédito para fechar orçamento, devido ao preço mais caro de itens básicos, como alimentos e combustível. Entre os mais ricos, houve maior financiamento de bens de alto valor agregado, como imóveis e carros, e o retorno mais intenso de viagens, com a melhora de indicadores da pandemia. 

O cartão foi o meio mais usado, sendo citado por 82,6% do total dos que se declararam com dívidas em 2021. Isso não conduziu à piora nos indicadores de inadimplência. No ano passado, 25,2% de famílias endividadas informaram débitos em atraso, abaixo de 2020, quando essa parcela foi de 25,5%. 

A pesquisa é um sinal de alerta para este ano, que conta com cenário mais desafiador diante de juros e inflação altos, mas renda em baixa, alerta Izis Ferreira, economista da CNC. Ela não descarta uma piora nos indicadores de inadimplência no início de 2022. 

Os dados sinalizam crescimento econômico menor para o Brasil neste ano, ao mesmo tempo em que 2022 já começa com sinais de fragilidade no mercado de trabalho, com abertura de vagas mais concentradas em postos de baixa remuneração.