O GLOBO, n 32.348, 01/03/2022. Mundo, p. 17

CERCO ÀS FINANÇAS



EUA MIRAM BC RUSSO, E NEUTRA SUÍÇA TAMBÉM ADOTA SANÇÕES

Os Estados Unidos proibiram, ontem, todas as transações com o Banco Central da Rússia, sanção de efeito imediato e de uma gravidade sem precedentes, que limitará consideravelmente a capacidade de Moscou para defender sua moeda e apoiar sua economia. A medida foi tomada em coordenação com vários aliados de Washington, em resposta à invasão da Ucrânia.

“Esta decisão tem como efeito imobilizar todos os ativos que o Banco Central da Rússia tem nos Estados Unidos ou que estão nas mãos de cidadãos americanos”, detalhou um comunicado do Departamento do Tesouro.

A medida é a mais recente sanção de uma série de ações econômicas agressivas que os países ocidentais adotam contra a Rússia. A cotação do rublo desabou e registrou valores mínimos em relação ao dólar e ao euro na abertura no mercado de câmbio em Moscou.

MAGNATAS RUSSOS ATINGIDOS

Na noite de sábado, Estados Unidos, União Europeia (UE) e Reino Unido anunciaram a remoção de alguns bancos russos do sistema de transações bancárias internacionais Swift. O objetivo é garantir que “esses bancos sejam desconectados do sistema financeiro internacional e que sua capacidade de operar globalmente seja prejudicada”.

Após o anúncio dos EUA, o governo britânico também informou que vai impor novas sanções para isolar a economia russa, congelando ativos bancários e impedindo o acesso a navios russos. Todos os navios de bandeira russa e fretados ou de propriedade de russos serão proibidos de aportar em portos do Reino Unido.

—Vamos realizar um congelamento total de ativos de todos os bancos russos nos próximos dias, tentando coordenar com nossos aliados —disse a secretária de Relações Exteriores britânica, Liz Truss, ao Parlamento.

O Canadá, que também adota medidas contra a Rússia, no mesmo tom de EUA e União Europeia, anunciou que vai suspender todas as compras de petróleo russo.

Por sua vez, a Suíça deixou sua posição de neutralidade e anunciou que vai retomar de forma “integral” as sanções econômicas adotadas pela

UE em resposta à invasão da Ucrânia. As medidas incluem sanções contra o presidente russo, Vladimir Putin; seu chanceler, Sergei Lavrov; e o premier Mikhail Mishustin, e terão efeito imediato.

— Trata-se de um grande passo para a Suíça, um país tradicionalmente neutro — disse o presidente Ignazio Cassis. — O Conselho Federal [o órgão executivo] tomou essa decisão com convicção, de uma forma reflexiva e inequívoca.

As sanções significam congelar imediatamente os ativos de pessoas e empresas que figuram na lista de personalidades russas classificadas pelo Ocidente como cúmplices de Putin no ataque à Ucrânia. A ministra da Justiça, Karin Keller-Sutter, por sua vez, informou que cinco magnatas russos, “muito próximos de Vladimir Putin” e com vínculos muito importantes na Suíça, “estão proibidos de entrar” no país. Suas identidades não foram divulgadas.

— Essas pessoas não têm visto de residência na Suíça, mas contam com importantes vínculos econômicos, sobretudo, nas finanças e no negócio de matérias-primas —afirmou Keller-Sutter.

Dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS) indicam que residentes russos têm cerca de US$ 24 bilhões (R$ 123,8 bilhões) depositados em bancos suíços. Alguns analistas, no entanto, estimam que as somas podem ser bem mais significativas.

Ainda na sexta-feira, o presidente Cassis havia deixado claro que desejava manter o caminho da moderação em relação a Moscou, mesmo que as sanções, que se baseiam nas da UE, tenham sido endurecidas. Mas nos últimos dias, autoridades suíças estiveram sob forte pressão para se alinharem com o bloco e com os Estados Unidos.

Em outro desdobramento do ataque russo à Ucrânia, presidentes de oito países da UE pediram ontem aos outros Estados-membros queta mente à Ucrânia o status de país candidato ao bloco e abram as negociações de adesão. O apelo foi feito em uma carta aberta publicada depois de um pedido de ingresso imediato feito pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e contou com o apoio de Bulgária, República Tcheca, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Eslováquia e Eslovênia.

EUA: SEM PRONTIDÃO NUCLEAR

Também ontem, o chanceler da Itália, Luigi Di Maio, deu apoio ao pedido da Ucrânia de integrar a UE — atualmente formada por 27 países.

— Eu acho que o pedido ucraniano de se juntar à UE é um pedido legítimo. Estou convencido... que na Ucrânia, cidadãos europeus estão morrendo e sofrendo sob bombas russas. Nós temos que estar do lado deles —disse Di Maio.

Em meio à tensão do ataque russo à Ucrânia, a Casa Branca disse que os EUA “não veem motivo para mudar” seus níveis de alerta nuclear no momento em reação à decisão de Putin, no domingo, de ordenar que as forças de dissuasão nuclear russas fossem postas em alerta.

— Não mudamos nossos próprios alertas e não mudamos nossa própria avaliação nessa frente, mas também precisamos ter muita clareza sobre o uso de ameaças dele [Putin] — disse a porta-voz Jen Psaki.

O presidente Joe Biden também foi questionado rapidamente se os americanos deveriam ficar preocupados com uma eventual guerra nuclear, ao que ele respondeu apenas com um “não”.