O GLOBO, n 32.348, 01/03/2022. Economia, p. 14

Guerra da Ucrânia e Covid dividem espaço com 5G em feira de tecnologia



Especialistas alertam para aumento de ataques cibernéticos com conflito

Dois anos depois do início da pandemia, o setor de telecomunicações ensaia uma volta à normalidade com o Mobile World Congress (MWC), o maior evento da área no mundo, em formato presencial. Se o pior da variante Ômicron parece ter ficado para trás, a guerra na Ucrânia trouxe uma nova espécie de cautela.

Para evitar cancelamento de última hora, tal qual ocorreu em 2020, a organização correu para informar que não há russos ou empresas da Rússia no evento.

O novo normal, porém, deixou para trás os crachás. Tudo é feito por aplicativos, identificação facial e QR Codes. Dentro do evento, só entra quem estiver vacinado e protegido com ao menos duas doses. Sem isso, não libera o acesso ao evento, que deve receber 60 mil visitantes de 150 países até quinta-feira. Máscaras e álcool em gel estão em todos os lugares. Desde o início do mês, o uso de máscaras na Espanha não é mais obrigatório ao ar livre, apenas em locais fechados.

A mudança de clima em relação à Covid-19 ganhou força no fim de janeiro, quando o governo disse que poderia tratar o coronavírus como uma endemia (que está sempre presente, mas sob controle). Na ocasião, Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, disse que, embora aguarde relatórios mais conclusivos, irá “avaliar a evolução da Covid para uma doença endêmica”.

É neste cenário que o MWC reúne mais de 1.500 empresas do setor para falar sobre o 5G. As companhias estão reforçando de última hora mensagens sobre segurança e eficiência da rede de Quinta Geração em razão dos ataques cibernéticos dos últimos dias envolvendo Rússia e Ucrânia. Desde o início das ações, hackers derrubaram sites russos e ucranianos.

Dan Ives, diretor e analista sênior da Wedbush Securities, diz que, com a retirada da Rússia do sistema de pagamentos Swift, haverá uma escalada da guerra cibernética. Para ele, é esperado aumento de ataques à rede por organizações apoiadas pelo Kremlim “nas próximas semanas visando várias empresas e agências governamentais dos EUA e da Europa”.

—A Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura dos EUA colocou os departamentos de TI em alerta máximo para ataques cibernéticos. Vimos muitas atividades de proteção cibernética no fim de semana, à medida que mais organizações, empresas e governos colocaram defesas sofisticadas à frente do que provavelmente será uma escalada de ataques a empresas americanas e europeias com foco em instituições financeiras, entre outros verticais importantes.

O analista prevê, como reflexo imediato, um aumento nos gastos com a prevenção de ataques cibernéticos sofisticados baseados na Rússia, que miram data centers e redes:

—Os consumidores devem estar em alerta máximo.

INVESTIMENTOS EM 5G

A GSMA, associação que reúne as principais empresas do setor, revelou que a Quinta Geração vai gerar investimentos de US$ 527 bilhões entre 2022 e 2025 em todo o mundo. O valor representa 85% do total a ser aplicado no setor.

Na América Latina, a previsão é que o 5G receba US$ 37 bilhões nos próximos quatro anos, cerca de 75% dos investimentos no setor. Ficará atrás da Ásia, América do Norte e Europa. Nessas três regiões o 5G terá quase 100% dos investimentos. A previsão é que as conexões 5G no mundo passem de uma fatia de 8% do mercado para 25% em 2025.

No Brasil, os investimentos em 5G devem movimentar US$ 25,5 bilhões até 2025, avalia o IDC.