O GLOBO, n 32.348, 01/03/2022. Política, p. 8
MBL vai à guerra e é acusado de fazer “palanque”
Integrantes do grupo anunciam ida a Ucrânia para entrevistas, mas viagem abre brecha para críticas sobre politização do conflito
Em meio à invasão russa, dois integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) resolveram ir à Ucrânia e, na contramão do efeito esperado, geraram uma onda de críticas de que estariam tentando transformar a guerra em “palanque”. O deputado estadual Arthur do Val (Podemos), pré-candidato ao governo de São Paulo, e o coordenador do grupo, Renan Santos, apoiam a empreitada presidencial de Sergio Moro (Podemos) e vêm criticando a postura do presidente Jair Bolsonaro, que não condenou a agressão capitaneada por Vladimir Putin.
O ex-juiz, por sua vez, acusou Bolsonaro e o PT de estarem “alinhados a ditaduras” que se omitiram sobre a guerra —“nós estamos do outro lado”, afirmou.
Arthur do Val, conhecido nas redes sociais como Mamãe Falei, afirmou em um vídeo que, ao lado do amigo, tentaria entrar no país a partir da fronteira com a Eslováquia.
—Vamos fazer cobertura e entrevistas. É o fato político mais importante das nossas gerações —anunciou, enquanto aguardava um voo no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha.
Já Renan Santos argumentou que a postura do governo brasileiro não está à altura —e aproveitou para criticar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também pré-candidato ao Planalto e adversário político do grupo há anos.
—O Brasil está cumprindo um papel ridículo, não tem nada a ganhar com essa história. Fica o Bolsonaro apoiando (a Rússia), e o Lula do outro lado passando pano —afirmou o coordenador do MBL.
A viagem gerou reações imediatas. “Você acha mesmo que é hora de querer fazer palanque de campanha?”, questionou um usuário do Twitter. Em outra publicação, um seguidor acusou a dupla de fazer “sensacionalismo”. Um perfil de um homem que se identifica como apoiador do grupo também criticou e alertou para uma possível consequência reversa: “A repercussão disso será muito negativa, podem ter afundado a candidatura do Arthur. Se nós que gostamos do MBL e somos militantes já achamos ruim, imagina os inimigos políticos”. O fato de Arthur do Val ser deputado estadual em São Paulo, atividade política sem qualquer relação com uma guerra na Europa, também foi citado em tom crítico.
“VIAJAMOS NO FERIADO”
Na tentativa de serenar os ânimos, Renan Santos negou que a viagem envolva dinheiro público, ponto que estava sendo questionado também. “Vale salientar: viajamos com nossa grana, sem missão oficial de governo algum, no meio de um feriado”, ponderou, em alusão ao carnaval.
A viagem também abriu uma brecha para o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha do pai à reeleição, fazer uma ironia, direcionada a Arthur do Val. “Deve estar achando que lá é palco de manifestação, igual à Avenida Paulista. Depois, arruma problema e vai sobrar para o Bolsonaro resolver”.