O GLOBO, n 32.349, 02/03/2022. Política, p. 5

Com federação distante, MDB cria plano para reaver Congresso

Julia Lindner


Obstáculos nos estados travam aliança de quatro anos com União Brasil; sigla agora mira bloco para superar Centrão e esquerda

Após um início de negociação que pareceu promissor, entraves estaduais e visões distintas sobre a eleição à Presidência distanciaram o MDB de uma federação partidária com o União Brasil. Hoje, o plano de uma ala dos emedebistas é estruturar um bloco de apoio que supere a força do Centrão e possibilite a retomada do controle do Congresso no ano que vem.

O partido, que nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) chegou a presidir simultaneamente Câmara e Senado, perdeu força e, na gestão de Jair Bolsonaro, não esteve à frente de nenhuma das Casas.

Dirigentes da sigla avaliam que, a partir das movimentações da janela partidária — o período de trocas começa amanhã e dura um mês —, será possível ter um mapa mais completo da construção das chapas nos estados. A legenda mantém o posto de maior bancada no Senado, com 16 integrantes, mas é a apenas a sexta em tamanho na Câmara, com 34 representantes. Assim, as negociações com outros partidos seguem no radar, mas sem a amarração de uma federação — neste modelo, há a obrigação de atuação conjunta por quatro anos, o que inclui também a eleição municipal de 2024.

— Os partidos estão procurando se fortalecer para disputar as presidências das Casas, as comissões mais importantes e as relatorias. Tudo isso ocorre em função do número de parlamentares — resume o senador Marcelo Castro (MDB-PI).

Com a federação ficando mais longe, emedebistas pretendem negociar a formação de um bloco parlamentar com o União Brasil e outras siglas. A ideia é buscar um “equilíbrio congressual”, com a aliança de legendas de centro e centro-direita —o objetivo seria superar os partidos de esquerda e o Centrão, principalmente na Câmara.

No Senado, presidido pelo MDB ao longo de 30 anos desde a redemocratização, a costura passa pelo PSD. No governo Bolsonaro, os emedebistas foram derrotado duas vezes ao tentarem assumir a Casa: primeiro, por Davi Alcolumbre (União-AP), que derrotou Renan Calheiros (MDB-AL); depois, por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que superou Simone Tebet (MDB-MS).

Renan, que já presidiu o Senado quatro vezes, tratou do assunto com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que sinalizou a possibilidade de um acordo para o emedebista voltar ao posto a partir do ano que vem. Kassab tem indicado a intenção de lançar candidatura própria ao Palácio do Planalto, mas, ao mesmo tempo, ensaia uma aproximação com o PT.

O PSD tem a segunda maior bancada do Senado, com 11 integrantes, e nutre a expectativa de crescer no próximo ano. Por isso, a sigla é considerada crucial para definir o resultado do pleito que definirá o presidente do Senado no biênio 2023-2024.

Ainda dentro da estratégia de privilegiar a formação de bancadas, o grupo de Renan vai insistir na tese de que é importante apoiar Lula, em detrimento da candidatura própria de Simone Tebet. Um dos argumentos é que, em 2018, o desempenho ruim de Henrique Meirelles, que teve 1% dos votos, atrapalhou o partido nas disputas ao Legislativo. A postura de Renan, inclusive, foi um dos fatores de insatisfação de lideranças do União Brasil, que são contra qualquer alinhamento com o ex-presidente.

Os cenários em São Paulo, Bahia, Paraíba e Ceará também dificultaram a formação de um consenso para a federação. Na Paraíba, por exemplo, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) deve disputar o governo do estado com o apoio de Lula, enquanto o deputado Efraim Filho (União) quer concorrer ao Senado com o endosso de Bolsonaro.

Contrário à federação, o ex-senador Eunício Oliveira (CE) explicita a dificuldade de um acordo amplo.

— Quem vai mandar em cada estado? E para qual lado a federação vai? Há um grupo que apoia Lula (no MDB), ao mesmo tempo em que há um partido com origem bolsonarista — pontua Eunício, em referência ao fato de o União Brasil ter deputados oriundos do PSL, partido pelo qual o presidente se elegeu.