O GLOBO, n 32.349, 02/03/2022. Política, p. 6

No Rio, janela partidária vai espalhar bancada bolsonarista

Bernardo Mello


Para reeditar campanhas alinhadas ao presidente cerca de 20 parlamentares devem trocar União Brasil por siglas como PL, PP, PTB e MDB

Com a abertura da janela partidária, amanhã, a bancada de deputados bolsonaristas do Rio deve iniciar uma dispersão por até quatro partidos. PL, PTB, PP e MDB são os prováveis destinos dos cerca de 20 parlamentares federais e estaduais, quase todos eleitos pelo PSL em 2018, que apostam em reeditar campanhas alinhadas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) para buscar mais quatro anos de mandato.

No geral, pelo menos 40 deputados federais e estaduais do Rio devem se movimentar durante a janela, que permite a migração de sigla sem perda de mandato até o dia 1º de abril. O União Brasil, partido criado pela fusão entre DEM e PSL, deve perder 15 parlamentares fluminenses nesta janela, e pretende filiar outros seis candidatos à recondução no Legislativo.

O PL, que filiou Bolsonaro em novembro, será o principal destino da bancada bolsonarista no estado. A previsão é que o partido receba ao menos sete dos 12 deputados federais apoiadores do presidente hoje no União Brasil, e outros sete estaduais.

Há nomes ligados à militância bolsonarista, contudo, que tomarão outros rumos. O deputado federal Daniel Silveira, por exemplo, que chegou a ser preso em 2021 por ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), optou por filiar-se ao PTB e avalia uma possível candidatura ao Senado. À época de sua prisão, em votação no plenário da Câmara, o PL orientou a favor de referendar a decisão do STF. Já o PTB orientou contrariamente à prisão.

— Certamente não vai ser aquela migração total. Os 12 (deputados) federais não vão juntos para o PL. Já conversei com os colegas, a minha estimativa é que uns seis ou sete sigam para o PL, e o restante vai se dissipar por aí — afirmou o deputado Márcio Labre, um dos egressos do PSL apalavrados com o PL.

Quem também deve desembarcar no PTB é a deputada estadual Alana Passos, que teve as portas fechadas no PL devido a constantes embates com o governador do Rio, Cláudio Castro, que também se filiou ao partido. Além de Alana, outro aliado da família Bolsonaro que deve se filiar ao PTB é o policial militar reformado Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio e investigado no caso da “rachadinha”. Ele avalia concorrer a deputado federal ou estadual.

Já o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), que negociava sua ida para o PTB, recuou em meio à disputa interna que resultou na queda da então presidente da sigla Graciela Nienov. Otoni agora deve se filiar ao MDB, partido que faz parte da base de Castro no Rio. No ano passado, Otoni chegou a ter perfis bloqueados e foi condenado a indenizar o ministro, Alexandre de Moraes, do STF, por ofendê-lo nas redes sociais.

REPUBLICANOS FORA

O PP, partido que apoiará a reeleição de Bolsonaro, deve receber também parlamentares que não tiverem espaço no PL. Segundo o presidente estadual do PP, Dr. Luizinho, três deputados federais egressos do PSL já acertaram sua filiação: Felício Laterça, Professor Joziel e Lourival Gomes.

O Republicanos, outra sigla que vinha dialogando para fazer parte da coligação de Bolsonaro, deve ficar fora da repartição do bolo bolsonarista no Rio — e ainda perder para o PL o deputado estadual licenciado Dr. Serginho, atual secretário de Ciência e Tecnologia do governo Castro. Em âmbito nacional, o presidente da legenda, Marcos Pereira, já expressou descontentamento com Bolsonaro por conta da formação de chapas nos estados e do assédio a parlamentares do Republicanos, sugerindo um possível desembarque da campanha pela reeleição.

Sem o bloco bolsonarista, o partido ligado à Igreja Universal busca uma solução caseira com o objetivo de “puxar” votos para o Legislativo. O ex-prefeito do Rio e bispo licenciado Marcelo Crivella, que planejava concorrer ao Senado, vem sendo estimulado pelo Republicanos a se lançar como deputado federal.

No caso do União Brasil, desidratado do bolsonarismo, uma das apostas para concorrer à Câmara é o ex-governador Anthony Garotinho, que hoje está inelegível.