VALOR ECONÔMICO, n 5420, 19/01/2022, Política, A7
Presidente avaliza indicação do PL para o BNB
Andrea Jubé
O presidente Jair Bolsonaro cedeu à pressão da cúpula do PL e avalizou a indicação do diretor financeiro e de crédito do Banco do Nordeste (BNB), José Gomes da Costa, para assumir a presidência da instituição, um dos cargos mais concorridos entre aliados da base governista.
O BNB será estratégico na condução do futuro programa de microcrédito que o governo vai lançar, de forte apelo popular, entre fevereiro e março. Há expectativa de que o microcrédito alavanque a popularidade do presidente, que está em baixa nas pesquisas sobre a sucessão presidencial.
O Banco do Nordeste publicou na segunda-feira, dia 17, fato relevante informando a nomeação do economista José Gomes da Costa pelo Conselho de Administração, para assumir a presidência da instituição.
Funcionário de carreira do banco há 38 anos, ele vai acumular a presidência com a Diretoria Financeira e de Crédito - cargo que assumiu há menos de dois meses. Entretanto, ele assume a presidência como interino.
O nome de Costa também passou pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem entre as atribuições do cargo, a supervisão dos bancos públicos.
O Valor apurou com fontes do governo que, inicialmente, Bolsonaro resistiu à indicação do apadrinhado do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, porque Costa foi ligado ao PT - ele teria sido filiado ao diretório do PT na Bahia.
O último cargo de direção do economista no banco, antes de assumir a diretoria financeira em dezembro, foi a Superintendência do BNB na Bahia - Estado que representa, justamente, um feudo político do PT.
Costa foi o segundo nome que o presidente do PL tentou emplacar na presidência do banco. Em outubro, chegou ao gabinete do ministro da Economia, Paulo Guedes, o nome de Ricardo Pinto Pinheiro, consultor do setor regulatório de energia e saneamento, mas a indicação foi rejeitada.
A nomeação de José Gomes da Costa para o comando do BNB foi mais uma vitória política do presidente do PL, sigla à qual Bolsonaro se filiou no fim de novembro. Atualmente, Costa Neto é um dos principais coordenadores da campanha à reeleição de Bolsonaro, ao lado do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
No fim de setembro, Valdemar Costa Neto gravou um vídeo cobrando, publicamente, a demissão do então presidente do BNB, Romildo Carneiro Rolim. Três dias depois, a demissão de Rolim foi comunicada em fato relevante publicado pelo banco. Desde então, o presidente interino do banco era o diretor de negócios, Anderson Aorivan Possa.
“Não podemos ter uma ONG contratada num banco como o BNB”, criticou Costa Neto no vídeo divulgado em 27 de setembro. O ataque foi direcionado ao Instituto Nordeste Cidadania, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), responsável, desde 2003, mediante termos de parceria, pela gestão do Crediamigo, programa de microcrédito urbano, no valor de R$ 583 milhões, e, desde 2005, pelo Crediagro, para a agricultura familiar, no valor de R$ 358 milhões, com atuação em cerca de 2 mil municípios.
Na ocasião, o Inec divulgou uma nota de posicionamento público, afirmando que atende uma carteira de 2,5 milhões de clientes, realizando 20 mil operações diárias, sem remuneração. Informou que, anualmente, é auditado por empresas independentes e todas sempre atestaram a “regularidade” de seu trabalho junto ao BNB.