O GLOBO, n 32.349, 02/03/2022. Mundo, p. 13

EUA e especialistas apontam dificuldades no front



Avanço russo teria perdido ímpeto por problemas logísticos; relatos indicam que recrutas estariam se rendendo sem lutar

A situação no terreno, além da percepção de que a estratégia inicial de “choque e pavor” não teve o efeito esperado, pode explicar a relativa pausa no avanço das tropas da Rússia, especialmente ao redor da capital, Kiev, onde imagens de satélite mostram  a presença de uma coluna de mais de 60 quilômetros de blindados e veículos militares.

De acordo com especialistas militares e integrantes do Pentágono, os comandantes russos podem estar “reagrupando e repensando” seus planos de batalha, e dando sinais de que a próxima fase da invasão será bem mais violenta. Segundo um alto funcionário do Pentágono ouvido pelo New York Times, os soldados estão encontrando problemas como falta de combustíveis e alimento.

Também o baixo desempenho da Força Aérea russa na Ucrânia tem causado perplexidade em analistas militares.

“O que vem a seguir? A liderança política da Rússia ainda não está reconhecendo o fracasso de seu plano de tomar Kiev rapidamente”, disse, no Twitter, Michael Kofman, especialista em Forças Armadas russas no centro de estudos CNA. “Mas estamos vendo uma maior abertura para uso de artilharia, ataques e poder aéreo.Infelizmente, o pior ainda está por vir, e essa guerra pode ficar ainda mais feia.”

De acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra, baseado nos EUA, essa nova fase pode começar já nos próximos dias e terá como ponto central conquistar Kiev.

“Os militares ucranianos provavelmente não conseguirão evitar que as forças russas cerquem Kiev se os russos mandarem uma força de combate suficiente para tal, mas também poderão tornar os esforços russos para ganhar controle da cidade extremamente custosos e possivelmente sem sucesso”, diz um relatório do Instituto, publicado ontem.

Segundo estimativas, cerca de 80% dos 150 mil militares russos que se concentraram nas fronteiras com a Ucrânia já participam de operações de combate.

Surgem, entretanto, cada vez mais relatos de soldados russos se rendendo, sem resistência, por vezes sabotando seus próprios veículos para evitar combate. Em solo russo, mães de recrutas acusam as autoridades militares de forçarem seus filhos a ir para o front, algo que, em tese, é proibido.

Na semana passada, uma associação de mães de recrutas, que cumprem o serviço militar obrigatório na Rússia, afirmou que muitos de seus filhos estão sendo levados para o front sem treinamento adequado e sem o aval da lei, que impede que participem de operações de combate de forma obrigatória.