O GLOBO, n 32.349, 02/03/2022. Mundo, p. 13

TV E RÁDIO FORA DO AR



ATAQUE DANIFICA PRINCIPAL TORRE DE KIEV. E RUSSOS PREPARAM ASSALTO

Com contingentes reforçados por um comboio militar gigantesco aparentemente prontos para um ataque frontal contra a capital da Ucrânia, Kiev, as forças russas bombardearam a principal torre de rádio e TV da cidade ontem, interrompendo todas as transmissões, segundo o Ministério do Interior ucraniano. Cinco pessoas morreram, disse o governo.

Embora Moscou tenha anunciado ontem que atacaria alvos militares em Kiev, não se sabe, ainda, quando e se as forças russas desfechariam um ataque terrestre maciço à capital, o que, segundo fontes do governo americano, poderia demorar mais de 24 horas.

 Vídeos capturaram ao menos mais duas explosões próximo à torre. Em comunicado, o Ministério do Interior da Ucrânia confirmou que os canais de TV estão temporariamente fora do ar. A torre, no entanto, não foi derrubada.

Após o bombardeio, a Chancelaria disse que a Rússia foi “bárbara”. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, confirmou que o Memorial do Holocausto de Babi Yar foi atingido. O museu fica no local em que 30 mil judeus ucranianos foram assassinados pelos nazistas em setembro de 1941, durante a Segunda Guerra Mundial.

— Qual o sentido de dizer “nunca mais” por 80 anos, se o mundo fica quieto quando uma bomba cai no local de Babi Yar? —afirmou Zelensky.

CERCADA HÁ VÁRIOS DIAS

Kiev está cercada há vários dias. Imagens de satélite registraram, na noite de segunda-feira, um comboio de veículos militares e blindados russos de cerca de 64 quilômetros de extensão indo em direção à cidade. Segundo a empresa Maxar, responsável pela imagem, podem ser vistos tanques, peças de artilharia, veículos de transporte e equipamentos de logística. De acordo com a CNN, a fila vai da área ao redor do aeroporto de Antonov, a cerca de 25 km ao sul do Centro de Kiev, até Prybirsk, ao norte.

Antes do ataque à torre de TV, o Ministério da Defesa russo anunciar a que iria atacar locais em Kiev pertencentes ao serviço de segurança da Ucrânia, além de uma unidade de operações especiais para, segundo nota oficial, evitar “ataques de informação” contra a Rússia e “acabar com a guerra psicológica e midiática” da Ucrânia. O comunicado também instava moradores próximos a esses locais a deixarem suas casas.

Segundo a ONU, até agora 136 civis foram mortos na ofensiva russa, sendo 13 crianças, e 400 ficaram feridos. A Chancelaria da Índia confirmou que um estudante indiano foi morto em Kharkiv.

Em Moscou, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, justificou a ofensiva em termos defensivos.

— O principal para nós é proteger a Federação Russa da ameaça militar representada pelos países ocidentais que estão tentando usar o povo ucranianonalutacontranossopaís — disse ele, afirmando ainda que a Rússia busca evitar expor civis. —Os ataques são realizados apenas em alvos militares e exclusivamente com armas de alta precisão.

Shoigu alegou que os militares russos não estão ocupando o território ucraniano. Segundo ele, nos confrontos, o lado ucraniano coloca “sistemas de lançamento de foguetes, armas e morteiros de grande calibre nos pátios de prédios residenciais, perto de escolas e jardins de infância, e usa civis como escudos humanos”.

Durante a madrugada, o prédio do governo regional da segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, foi atingido por um míssil, deixando pelo menos dez mortos e 35 feridos, segundo autoridades. Zelensky classificou os ataques de “terrorismo de Estado”. O Consulado da Eslovênia também foi atingido, mas estava vazio. Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia, afirmou que o bombardeio viola as “leis de guerra”.

KHARKIV RESISTE

Essa é a segunda vez que Kharkiv é alvo de um grande ataque russo desde o início da guerra, mas, até o momento, a cidade, com 1,4 milhão de habitantes e a apenas 65 quilômetros da fronteira da Rússia, permanece nas mãos dos ucranianos.

No Leste do país, tropas de Moscou atacaram as cidades de Mariupol e Volnovakha. “As duas cidades estão sob pressão do inimigo, mas estão resistindo”, escreveu o governador da região no Facebook.

O Exército russo também se aproxima de Kherson, no Sul. Nas redes sociais, vídeos mostram as forças russas já entrando na cidade de 290 mil habitantes, que fica ao norte da Crimeia.

Apesar da ofensiva, até agora o Exército russo não tomou nenhuma grande cidade ucraniana. Para proteger a capital, Zelensky anunciou um novo plano de defesa, que inclui a nomeação de um novo general para fazer a estratégia militar e o prefeito, Vitalii Klitschko, para organizar a parte civil e de voluntários. O mandatário afirmou que defender Kiev “é prioridade”, já que a queda da capital significaria uma grande chance de vitória dos russos na guerra.